Em destaque: Teoria Social, História da Ciência e América Latina.
Da Redação
Neste mês, resolvemos privilegiar um arco disciplinar de leituras. Dos três livros de nossas dicas e lançamentos, apenas um livro está no campo da história: “Afrolatinoamérica”, organizado pelas historiadoras Viviana Gelado e María Verónica Secreto, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Os outros dois vem de “fora”. Em um duplo sentido. “O gene” foi escrito pelo médico e biólogo indiano Siddharta Mukherjee. Já “Teoria Social”, pelo sociólogo inglês William Outhwaite.
OUTHWAITE, William. Teoria social – um guia para entender a sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 2017. pp.142.
Não apenas de história vivem os historiadores. Por isso, nossa primeira dica de abril deste ano vai para o campo da sociologia. Trata-se do livro “Teoria Social – um guia para entender a sociedade contemporânea”, do sociólogo William Outhwaite, que acaba de chegar ao Brasil pela editora Zahar. Como diz o autor na introdução da obra, “se você está interessado em questão políticas ou econômicas, ou sobre cultura, relações de gênero ou étnicas, a teoria social explica as relações entre elas”. Esta é uma boa definição para a amplitude da obra de Outhwaite, uma espécie de síntese das questões fundamentais da teoria social. Ela divide-se em oito capítulos. O primeiro examina a temática da desigualdade social, tomando como ponto de partida questões essenciais propostas por Rousseau e Montesquieu, no século XVIII. O segundo explora algumas controvérsias em torno do capitalismo, como, por exemplo, qual o lugar do marxismo, hoje, nos movimentos anticapitalistas? O terceiro debruça-se sobre a sociologia evolucionista de Herbert Spencer. O quarto retorno ao tema do capitalismo, focando suas precondições e consequências culturais. O quinto examina Georg Simmel. O sexto inova ao discutir Freud. O sétimo busca compreender como teóricos sociais explicaram a política moderna. Finalmente, o oitavo e último capítulo trata de temas que o autor considera negligenciados pela teoria social até pouco tempo, tais como gênero, crise ambiental, guerra, raça, colonialismo, entre outros. Talvez, os temas abordados nos oito capítulos possam parecer carcomidos pelo tempo ou mesmo repetitivos dentro das ciências humanas. Mas talvez seja este mesmo o propósito do autor. Como o próprio alerta no início do livro, “os teóricos sociais (…) formulam as grandes questões e retornam a elas repetidamente, de diferentes formas, em sucessivas gerações”. William Outhwaite é professor emérito de Sociologia na Universidade de Newcastle, na Grã-Bretanha, desde 2015, tendo lecionado por 34 anos na Universidade de Sussex. Autor de extensa obra, na qual destacam-se livros inovadores sobre teoria social. Pela editora Zahar publicou Dicionário do pensamento social do século XX, editado em conjunto com Tom Bottmore.
MUKHERJEE, Siddhartha. O Gene – uma história íntima. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. pp.666.
E já que estamos abrindo um arco interdisciplinar, nossa segunda dica vai para o livro recém-lançado pela Companhia das Letras, “O Gene – uma história íntima”, de Siddharta Mukherjee, médico indiano vencedor do prêmio Pulitzer por “O imperador de todos os males” (uma “biografia” do câncer), também publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Nesta nova obra, Mukherjee faz uma combinação de história social e relato social para examinar as lentas e impactantes descobertas que envolvem o código genético. Como o próprio livro explica, o seu objeto central “é a história do nascimento, crescimento, influência e futuro de uma das mais poderosas ideias na história da ciência: o gene, a unidade fundamental da hereditariedade e a unidade básica de toda a informação biológica”. Ao se debruçar sobre o tema, o autor explora as principais descobertas científicas humanas, fala sobre medos, tensões, mitos e, claro, política e cultura, já que o gene ocupa um lugar central na tarefa de entender o que somos e porque fazemos as coisas que fazemos. Talvez você possa pensar que não há nada neste livro que pareça familiar ao historiador. Ledo engano. Mukherjee propõe discussões que dialogam demais com a historiografia, caso, por exemplo, dos debates sobre eugenia e racismo, conceitos, aliás, que moldaram os séculos XIX e XX. Mukherjee é professor assistente de Medicina da Universidade de Columbia, nos EUA.
GELADO, Viviana; SECRETO, María Verónica. Afrolatinoamérica – estudos comparados. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.
Porque o neologismo “Afrolatinoamérica”? Segundo as organizadoras desta coletânea, “os textos dos autores aqui reunidos querem pensar sem hifens. Querem pensar, sobretudo, em trânsitos, intercâmbios, elucidações por reciprocidade ou mesmo discrepância”. O livro, lançado recentemente pela Mauad X, organizado por duas professoras do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), Viviana Gelado e María Verónica Secreto, reúne trabalhos resultantes de pesquisas recentes, a maioria das quais produzidas nos intercâmbios promovidos pelo Grupo de Pesquisa “Afrolatinoamerica: estudos comparados” e pelo Projeto binacional Faperj/Conicet “Representações e autorepresentações afrodescendentes nas Américas em perspectiva comparada: Brasil, Argentina e o Caribe hispânico, desde finais do século XVIII até o presente”. Ao todo, seis artigos compõem a obra, cobrindo temas os mais diversos, de narrativas em torno de revoltas escravas até a trajetória de pintores afrodescendentes passando por representações raciais, de classe e de gênero no peronismo.