Getúlio: De volta pela consagração popular ao suicídio | Lira Neto | Cia das Letras | 2014 | 429 pp.
A comentada biografia de Getúlio Vargas, do jornalista cearense Lira Neto, acaba de chegar ao seu terceiro e último volume: “Getúlio – Da volta pela consagração popular ao suicídio (1945-1954)”. O livro explora aquele que talvez tenha sido o momento mais dramático da trajetória política de Vargas, o do pós-guerra, que culmina com o seu suicídio, em agosto de 1954. A obra, publicada pela editora Companhia das Letras, divide-se em 18 capítulos, obedecendo a uma cronologia linear. Não faltam à biografia de Lira Neto alguns dos momentos políticos mais emblemáticos da política brasileira no século XX. É o caso, por exemplo, do encontro entre Luis Carlos Prestes e Getúlio Vargas, antigos adversários políticos, em um palanque armado no vale do Anhangabaú, em São Paulo, em comício em apoio à candidatura do deputado Cirilo Júnior. Ou ainda, das entrevistas que Vargas deu ao jornalista Samuel Wainer, a quem confidenciou o seu retorno à vida política. Está lá também o ainda misterioso atentado ao jornalista Carlos Lacerda, evento que aumentou sobremaneira a pressão a Vargas, no final de seu segundo mandato (1950-1954). “Getúlio” não revoluciona nosso conhecimento sobre tema ou propõe questões historiográficas, mesmo porque não se pretende ser uma obra historiográfica. A leitura do livro – bastante agradável, bem narrada – dirige-se ao grande público, não especialista. E, neste sentido, cumpre muito bem tal função. Não fortuitamente, a obra ganhou a mais recente edição do prestigiado Prêmio Jabuti. Em 2014, ano paradigmático do ponto de vista político, temos um motivo a mais para conferir “Getúlio”. Clique aqui para saber mais sobre o livro de Lira Neto.
Encruzilhadas da Liberdade | Walter Fraga | Civilização Brasileira | 2014 | 363 pp.
Acaba de ser lançado pela editora Civilização Brasileira o livro “Encruzilhadas da Liberdade – Histórias de escravos e libertos na Bahia (1870-1910)”, do historiador Walter Fraga, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). O trabalho examina as tensões crescentes das décadas finais da escravidão, os dias agitados de maio de 1888 e os desdobramentos nos anos imediatamente seguidos. Recorrendo a um rico leque de fontes primárias (documentos oficiais, correspondências policiais, registros cartoriais, inventários, jornais, romances, entre outros), Fraga trabalha com trajetórias individuais e familiares de libertos, de forma a mostrar como a escravidão, embora oficialmente extinta no final do século XIX, continuou se projetando República adentro. Em outras palavras, trata-se de um estudo que procura investigar e mapear questões, conflitos e estratégias adotadas por ex-escravos ou segundas gerações de libertos em uma sociedade cuja mentalidade demorou muito mais do que demorou a abolição para compreender a profundidade das mudanças que estavam se realizando no país. Trabalhos com negros libertos tem sido uma tendência bastante clara na historiografia brasileira nos últimos anos. O livro de Fraga insere-se nesse movimento de renovação. De acordo com o pesquisador, “a escravidão foi muito mais do que um sistema econômico; ela moldou condutas, definiu hierarquias sociais e raciais, forjou sentimentos, valores e etiquetas de mando e obediência.” “Encruzilhadas da Liberdade” ganhou o prêmio Clarence H. Haring de melhor obra historiográfica latino-americana pela American Historical Association. Clique aqui para saber mais informações sobre ele.
A Escória do Mundo: a figura do pária | Eleni Varikas | Editora Unesp | 2014 | 178 pp.
Na índia do século XVI, os indivíduos que não pertenciam a nenhuma casta da rígida sociedade indiana eram chamados de “párias”. Nos séculos seguintes, no entanto, a expressão deixou de se referir somente aos indianos marginalizados e passou a ser empregada por colonizadores, intelectuais europeus e militares para se referir a grupos que não se encaixavam no novo projeto de civilização proposto pelo mundo ocidental surgido a partir da Revolução Francesa, ponto culminante da definição dos direitos individuais de coletivos do homem. Entre esses “enjeitados”, está a mulher autora, o judeu, o homossexual, o imigrante, o desempregado, entre outros. Este importante fenômeno político e social de marginalização que ainda nos assombra no mundo contemporâneo é o objeto de estudo da pesquisadora francesa Eleni Varikas, em seu “A Escória do Mundo”, que acaba de ser lançado pela Editora Unesp. Para Varikas, a construção da imagem do pária nos ajuda a refletir sobre a construção de discursos sobre si próprio e sobre o outro em sociedades que, tal como a nossa, se estruturam a partir de processos marcados pela desigualdade. Nas palavras da autora, “Por meio dos destinos extraordinários dessa escória do mundo revela-se o destino imposto a toda uma população. Mas também as contradições de nossa modernidade política e a exigência sempre atual dos párias rebeldes, que se obstinam em reivindicar a admissão na categoria de humanidade de cada indivíduos particular”. Clique aqui para saber mais a respeito. No Brasil, Eleni Varikas também teve publicado “O gênero nas ciências sociais”, pela Editora Unesp e Editora da UnB (2014).
Rainha da Moda | Caroline Weber | Zahar | 2014 | 607 pp.
Acaba de ser lançado neste mês em todo o Brasil pela Editora Zahar o interessantíssimo “Rainha da Moda”, de Caroline Weber, professora adjunta de francês no Barnard College, da Universidade Columbia. O livro, considerado como ”notável” pelo jornal americano New York Times, é um belo exemplo da chamada história cultural. Para a autora, a forma como a Rainha da França Maria Antonieta se vestiu durante o seu tempo “desempenhou um papel na determinação tanto de sua própria sorte quanto na do Ancien Régime como um todo”. De acordo com Weber, os historiadores que se debruçaram sobre Maria Antonieta, especialmente os seus biógrafos, raramente atribuíram importância para o impacto que o vestuário que a Rainha tinha no público. Em outras palavras, elementos como autoridade sexualidade, fertilidade e poder contidos no vestuário real, foram minimizados ou desprezados ao se olhar para a trajetória da monarca francesa. O livro de Weber tenta justamente dar atenção a essa função social e política da moda nas últimas décadas do século XVIII. Para a historiadora, a maneira como Maria Antonieta se vestia – influenciando das prostitutas do reino até as suas representantes na nobreza – ao mesmo tempo que ajudou a desfazer a aura sacralizante que envolvia a realiza francesa, também foi capaz de insuflar ainda mais os ânimos dos revolucionários franceses. E uma das muitas curiosidades do estudo: o código indumentário da Rainha manteve-se muito além dos salões de Versalhes. Maria Antonieta foi fiel a sua identidade até o momento em que foi a guilhotina, condenada à morte, expressando-se tremendamente através da moda. Clique aqui passa saber mais.
Cidadania, movimentos sociais e religião | João Marcos Assis e Denise Rodrigues | EdUERJ | 2014 | 252 pp.
Nascido de um simpósio temático ocorrido dentro do “III Congresso Internacional do Núcleo de Estudos das Américas – América Latina: Processos Civilizatórios e Crises do Capitalismo Contemporâneo”, realizado em agosto de 2012, na Universidade Do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o livro “Cidadania, movimentos sociais e religião – abordagens contemporâneas”, que acaba de ser publicado pelas Editoras EDUERJ e com apoio da FAPERJ, é um prato cheio para aqueles que buscam compreender a forma pela qual, no Brasil Republicano, questões como identidade, cidadania e religiosidade encontram-se interconectadas e para além dos clichês sociológicos. O livro, organizado pelos pesquisadores João Marcus Figueiredo Assis e Denise dos Santos Rodrigues, é composto por 11 textos divididos em duas partes: “religião e movimentos sociais” (reunindo artigos) e “religião e movimentos sociais” (reunindo comunicações). Além disso, o livro conta com um texto do sociólogo Ivo Lesbaupin sobre Igreja e Ditadura Militar, além de um prefácio escrito pela historiadora Maria Toríbio e por uma apresentação escrita pelos organizadores da obra. O tema “religião e movimentos sociais” é bastante claro como fio condutor dos textos do livro, que vão desde a Primeira República até a luta pelos sem-terra por assentamentos. Destaque também para os artigos que contemplam a relação entre Igreja, movimentos sociais e Ditadura Militar, tema que, não custa nada lembrar, esteve pouco presente na pauta dos 50 anos do Golpe Civil-Militar de 1964, relembrados este ano em todo o país. Para saber mais sobre o livro, que acaba de sair do forno, clique aqui.
História do Tempo Presente | Lucila de Almeida Delgado e Marieta de Moraes Ferreira | FGV | 2014 | 307 pp.
A Editora FGV acaba de lançar “História do Tempo Presente”, organizado pelas historiadoras Lucilia de Almeida Neves Delgado, professora a Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Marieta de Moraes Ferreira, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Fundação Getúlio Vargas.O livro reúne 15 artigos inéditos, organizados em torno de três eixos: 1. O Lugar do Historiador; 2. História do Tempo Presente, Política e Memória; 3. História do Tempo Presente e Mídia. Os textos compreendem temáticas variadas: memória sindical, rituais litúrgicos de presidentes da República, bibliotecas populares, entre outros. A obra é recomendada principalmente para aquele que buscam compreender melhor o que, afinal de contas, significa História do Tempo Presente (HTP). Na introdução do livro, as organizadoras já dão uma boa pista. Segundo Delgado e Ferreira, a História do Tempo Presente inscreve-se em um movimento de renovação historiográfica que revitalizou a história política, o uso das fontes e que tem proporcionado um novo saber histórico. Ainda segundo as duas historiadoras, a HTP se destaca, entre outros aspectos, pela questão da temporalidade que lhe é inerente: “o que diferencia a história do tempo presente das temáticas históricas longitudinais é a proximidade dos historiadores em relação aos acontecimentos, pois são praticamente contemporâneos de seus objetos de estudo. Nesse sentido, as memórias sobre acontecimentos e processos são essenciais para a construção do conhecimento histórico”. Para saber mais clique aqui.