A Segunda Guerra Mundial | Anthony Beevor | Editora Record | 2015 | 951 pp.
Lançado originalmente em inglês em 2012, “A Segunda Guerra Mundial”, do historiador britânico Antony Beevor, chega finalmente ao Brasil, publicado pela Editora Record. O livro é um calhamaço de 951 páginas que pretende agradar aos estudiosos do tema. Especialista em história militar e discípulo de Sir John Keegan (1934-2012), Beevor é um dos pesquisadores/autores mais respeitados quando a matéria é Segunda Guerra Mundial. Seu livro – que já pode ser encontrado nas livrarias brasileiras – é dividido em 50 capítulos e foca nas grandes e pequenas batalhas do conflito que mudou o rumo do planeta. Engana-se, no entanto, quem pensa que Beevor faz uma velha e tediosa história factual. Sua escrita, ágil e detalhada, revela o uso de diversos tipos de fontes, indo desde diários até ofícios ministeriais secretos, passando por poemas e documentos de agências de inteligência. Temos, então, um olhar riquíssimo, que ao mesmo tempo que discute estratégias militares tomadas pelas forças militares e os armamentos usados em combate, oferece um panorama quase antropológico do campo de batalha. Beevor tem também espaço e erudição suficientes para contar histórias ainda pouco conhecidas. Dentre as várias presentes no livro, podemos destacar a ação de Einsatzgruppen na Polônia. Um desses grupos táticos nazistas, conta Beevor, ficou encarregado de “capturar e mesmo matar aristocratas, juízes, jornalistas proeminentes, professores e quaisquer outras pessoas que pudessem exercer algum tipo de liderança em um futuro movimento de resistência polonesa.” Essa terrível e covarde operação militar ficou conhecida como “Operação Tannenberg”. Para conhecer um pouco mais sobre o livro, disponível no formato impresso e e-book, clique aqui.
Moçambique – O Brasil é aqui | Amanda Rossi | Editora Record | 2015 | 405 pp.
Além de “A Segunda Guerra Mundial”, de Anthony Beevor, a Editora Record lançou também recentemente o interessante “Moçambique – O Brasil é aqui”, da jornalista mineira Amanda Rossi. O livro é fruto dos sete meses que Rossi viveu em Moçambique, entre 2010 e 2013, além de duas importantes entrevistas, uma com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e a outra com o escritor Mia Couto, bem como muitas leituras e pesquisas em arquivos brasileiros – sobretudo o Arquivo Histórico do Itamaraty. Para Rossi, estudar Moçambique é fundamental para se compreender a presença recente do Brasil na África. Segundo a jornalista, embora os laços entre Brasil e África sejam antigos, somente a partir do governo do Partido dos Trabalhadores (PT), em 2003, essas relações foram construídas de maneira ostensivas e estratégicas. Para se ter uma ideia, 20 dos 39 postos diplomáticos atuais do Brasil em países africanos foram abertos por Lula. Em oito anos de governo, o então presidente fez 34 visitas ao continente, ao passo que seus antecedentes, juntos, fizeram apenas 15. Moçambique se destaca neste cenário. É hoje uma paisagem marcada pela presença brasileira. Estão lá empresas privadas como a “Vale”, “Camargo Correa”, “Odebretch”, “OAS”, “Rede Record”, “Igreja Universal do Reino de Deus”, além do próprio governo, com instalações da ‘FIOCRUZ”, “Universidade Aberta do Brasil” e “Embraer”, entre outras, privadas e governamentais. Apesar do influxo de capital brasileiro no país, o que ajudou a ampliar e muito as trocas econômicas com um continente em cresce a passos largos, Rossi mostra que esta presença, que acabou de completar dez anos, também possui suas tensões. Muitas empresas brasileiras passaram a ser vistas negativamente, principalmente como exploradoras. Para saber mais sobre o livro, que é uma bela peça de reportagem, clique aqui.
Stalingrado 1942 | Alexander Werth | Contexto | 2015 | 223 pp.
“Stalingrado 1942 – O início do fim da Alemanha Nazista”, que acaba de ser publicado pela Editora Contexto, é um daqueles livros que mostram que jornalistas também podem escrever boas obras de história. Alexander Werth, o autor, nasceu e cresceu em São Petersburgo, em 1901, mas logo após a Revolução Russa mudou-se para a Inglaterra, onde se formou jornalista. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi contratado como correspondente da BBC e do Sunday Times. Fluente em inglês e russo, Werth teve um olhar privilegiado no fronte, sendo um dos poucos jornalistas estrangeiros a cobrir o frente oriental. Em 1946, pouco tempo de voltar da guerra, lançou “Stalingrado”, a primeira reconstituição detalhada de uma das batalhas mais importantes da Segunda Guerra Mundial, travada entre soviéticos e alemães. O livro é antes de tudo uma “história militar”. O leitor menos acostumado com a escrita factual pode até se assustar: Werth descreve com profundidade sobre formações militares, estratégias, pequenas batalhas, cita muitos generais, datas e comunicados oficiais. Isso é fruto não só de sua observação como correspondente, mas também de sua pesquisa, realizada assim que retornou da guerra. Isso, no entanto, não torna sua escrita tediosa. Werth escrevia muito bem. Em certos momentos, ele chega a flertar com as tiradas literárias. É o que podemos ver no seguinte trecho, quando ele descreve o frio sentido no inverno russo de 1943: “assim instalados no furgão, sentiam-nos até bem, mas, incapazes do menor movimento, a não ser mexer os dedos das mãos e dos pés e esfregar nariz, acabamos sendo invadidos por uma espécie de torpor mental e físico, como se fosse uma droga. No entanto, não poderíamos esquecer que o frio pode atacar onde não se espera”. Ou seja, Werth não esconde o seu lugar de correspondente, de observador externo. Isso faz com que nosso olhar seja transferido para dentro do teatro de operações, coisa que os historiadores, seja por seu lugar de fala ou experiência, não pode e nem deve mesmo fazer. Para saber mais sobre esse lançamento da Contexto, clique aqui.
A história dos judeus| Simon Schama | Companhia das Letras | 533 pp.
A Companhia das Letras lançou recentemente o livro “A História dos Judeus – À procura das palavras 1000 a.C. – 1492 d.C.”, do historiador Simon Schama. O livro tem uma proposta ambiciosa, como o próprio título adianta: realizar uma síntese da história judaica, desde o Egito até a Era Moderna. Estamos diante, portanto, de uma espécie de história monumental, de uma grande narrativa. Schama, que tem uma prosa cativante, que conduz o leitor de forma bastante fluida pelos capítulos. Ele fala sobre arte, religião, política, cultura e história. Em vários momentos, no entanto, a narrativa é um tanto pacificadora, eliminando tensões e criando uma ideia de identidade e comunidade que precisaria ser melhor problematizada. Apesar disso, o livro é bastante informativo e deve servir àqueles que buscam conhecer um pouco melhor do período e do assunto. Nesta edição brasileira da Companhia das Letras, há várias imagens coloridas, em alta resolução, um bom índice remissivo, mapas e outros hipertextos importantes que ajudam a matizar a leitura. Ao referir-se sobre o trabalho, Schama diz: “embora eu não esteja à altura de narrar essa história, faço isso exultante, mesmo porque as fontes – as visuais e as textuais – passaram enorme transformação nos últimos decênios. (…) a história dos judeus foi tudo menos corriqueira”. “A História dos Judeus – À procura das palavras 1000 a.C. – 1492 d.C.” é dividida em dois capítulos: “papiro, cacos de cerâmica, pergaminho” (com quatro capítulos) e “mosaico, pergaminho, papel” (com cinco capítulos) Para saber um pouco mais sobre o livro, clique aqui.