Departamento de História da UnB se despede de duas referências

Departamento de História da UnB perdeu Ione de Fátima Oliveira, de 61 anos, da cadeira de História do Brasil, e Estevão Martins Resende, de 78 anos, da cadeira de Teoria de História.
16 de janeiro de 2025
ICC Norte, Universidade de Brasília (UnB) visto de cima.
ICC Norte, Universidade de Brasília. Foto: Bruno Leal.

Em menos de 24 horas, o Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) se despediu, com imenso pesar, de duas referências: a professora Ione de Fátima Oliveira, de 61 anos, da cadeira de História do Brasil, e Estevão Martins Resende, de 78 anos, da cadeira de Teoria de História. Ambos, apesar de recentemente aposentados, continuavam vinculados à universidade e colaborando ativamente com seu corpo docente e discente.

Dois professores queridos e potentes

Ione realizou sua graduação em História pela Universidade de Brasília (1984), fez o mestrado em História também pela UnB (1988) e o doutorado em Neure und Neueste Geschichte – Universität Augsburg (2003), na Alemanha. Foi professora associada da UnB de 1991 a 2024. Tinha vasta experiência na área de História do Brasil República, tendo trabalhado com história do Brasil República, historiografia do Brasil republicano, história política, partidos políticos e repressão.

Ione era uma unanimidade entre colegas e alunos. Historiadora precisa nas falas e generosa com alunos, compartilhava livros e incentivava o corpo discente a continuar os estudos na pós-graduação. Orientadora dedicada, fez parte da trajetória de dezenas de formados em história.

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Professora Ione, de blase branco a frente, rodeada de professores e alunos em visita ao Arquivo Nacional, em Brasília, em 2023. Foto: Arquivo Nacional.

Ione era ainda colega de trabalho amável e agregadora. E tendo em vista sua longa história com a UnB, era uma espécie de oráculo que os docentes costumavam consultar, especialmente em reuniões de colegiado, a fim de lidar com regras da universidade e decisões difíceis.

Estevão nasceu em 1947, no Rio de Janeiro, e formou-se em filosofia, em 1971, na hoje extinta Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Medianeira. Após um período de estudos na Universidade de Innsbruck, obteve o grau de doutor em 1976, na Universidade de Munique, Alemanha. Ingressou no quadro de docentes da Universidade de Brasília no ano de 1977, tendo se aposentado em 2017. Foi o primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia. Foi também consultor legislativo do Senado Federal, onde certamente também deixou vários amigos.

Nos últimos anos, assim como Ione, mesmo aposentado, Estevão continuava vinculado à Universidade de Brasília, na condição de membro do seu Conselho Diretor e de docente do Programa de Pós-Graduação em História. Recebeu o título de Professor Emérito da Universidade de Brasília, em 2018, e o de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Ouro Preto, em 2023. Era também membro do Conselho Diretor.

Professor Estevão, da UnB, recebe no púlpito o título de professor emérito.
Estevão Chaves de Rezende Martins ingressou na UnB em 1977. Tornou-se Emérito em 2018. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

Estevão era extremamente erudito e autoridade reconhecida no campo da Teoria da História e das Relações Internacionais, no Brasil e internacionalmente. Tem lista extensa de trabalhos publicados; orientou mais de 70 trabalhos de mestrado e doutorado. É provável que todo formado e toda formada em história, desde os anos 1980, tenha lido, em algum momento, algum texto seu/ Foi (e é) um daqueles historiadores incontornáveis no processo formativo de novos historiadores.

Dedicação à universidade pública

Estevão e Ione foram exemplos de humanismo e dedicação ao bem público, de excelência no processo formativo inclusivo e cidadão, do pensamento crítico e propositores de reflexões poderosas. Dedicaram boa parte de suas vidas profissionais à construção e desenvolvimento do Departamento de História da Universidade de Brasília, que já sente a falta de ambos. O Café História presta suas homenagens aos dois e solidariza-se com amigos, colegas e familiares.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas, justiça no pós-guerra e as duas guerras mundiais. Autor de "Quero fazer mestrado em história" (2022) e "O homem dos pedalinhos"(2021).

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