Professor de História desenvolve formação continuada para educação de estudantes autistas

O Ministério da Saúde define o TEA como um “distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo, interferindo na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento”.
29 de setembro de 2024
Professor de História desenvolve formação continuada para educação de estudantes autistas 1
Trabalho deriva de pesquisa de mestrado. Foto: Mimzy.

Em 21 de setembro é celebrado o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência. A data foi criada para conscientizar a sociedade sobre a inclusão das pessoas com deficiência e a importância da promoção de ações anticapacitistas. Entre os diversos tipos de deficiência está o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). O Ministério da Saúde define o TEA como um “distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo, interferindo na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento”. Essas características podem afetar, em alguns casos, o processo de ensino-aprendizagem, principalmente quando não há o preparo adequado da comunidade escolar para acolher estudantes com TEA.

Pensando nesses obstáculos, um professor de História do município de Paty do Alferes, no Rio de Janeiro, criou um curso de formação continuada e uma sequência didática para auxiliar professores que dão aulas para estudantes com TEA. As atividades resultam de sua dissertação, “Formação continuada de professores: o ensino de História numa perspectiva inclusiva”, defendida por Moisés Pires Teixeira, defendida em 2020, no Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O trabalho pode ser acessado aqui.

“A escola atual têm recebido cada vez mais alunos diversos. Contudo, o ambiente escolar e o processo de ensino-aprendizagem vêm se mantendo, na maioria das práticas, distantes das novas realidades que os cercam. A escola é o lugar do encontro, das relações mútuas, da construção do conhecimento e da prática de ensino-aprendizagem constante, lugar de fronteiras”, reflete Teixeira.

Com anos de experiência em sala de aula e pai de uma criança diagnosticada com a síndrome do X Frágil e condições de saúde relacionadas com o TEA, o pesquisador avalia que ainda há muito que se fazer para que estudantes com deficiência estejam totalmente incluídos no ambiente escolar. “No que tange a formação de professores, verificamos alguns problemas como a falta de conhecimento sobre a Educação Especial numa perspectiva da inclusão educacional na graduação. Vimos que muitos cursos de formação continuada surgem com a missão de tentar fechar essas brechas, contudo muitos professores continuam se sentindo despreparados para ensinar indivíduos com alguma deficiência”, aponta.

A pesquisa está dividida em três partes. No primeiro capítulo é abordado o ensino de História na sua relação com o tempo histórico e uso de imagens e questões que envolvem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com TEA. O segundo capítulo é voltado ao debate sobre preconceito e estigmatização de pessoas com deficiência, inclusão escolar e formação de professores no Brasil. O terceiro capítulo apresenta uma pesquisa qualitativa desenvolvida pelo autor sobre a educação inclusiva em Paty do Alferes e dados do município. Nesta última parte, também são tratadas as atividades de formação continuada proposta pelo pesquisador e a sequência didática.

Educação inclusiva

O primeiro passo para desenvolver o projeto foi criar um grupo de estudo local na escola Municipal Liddy Mignone, onde há um número maior de estudantes com autismo matriculados e atendidos pelo programa de inclusão da prefeitura. As atividades consistiam em conhecer os estudantes com deficiências e desenvolver planos de ações específicos para cada turma, segundo os planejamentos dos professores das classes regulares, considerando as necessidades específicas do público alvo da Educação Especial.

As atividades do grupo resultaram na organização do curso de formação continuada intitulado 1º Simpósio de Educação Inclusiva e Especial do município de Paty do Alferes. Ao longo de três meses foram desenvolvidas oficinas pedagógicas com a participação voluntária de algumas pesquisadoras e 74 professoras de várias redes de ensino da Baixada Fluminense e membros do Observatório de Educação Especial e Inclusão Educacional da UFRRJ.

Os encontros resultaram no desenvolvimento de uma sequência didática com a utilização de imagens como meio de apreensão de conceitos de tempo e espaço no ensino fundamental, a partir da reflexão sobre prática pedagógica utilizada com alunos com TEA e das discussões teóricas sistematizadas pelo grupo de estudos.

“Temos visto que os resultados da produção acadêmica recente, no campo do ensino da História, vêm demonstrando que uma prática metodológica adequada, capaz de oferecer aos alunos diferentes aspectos de um mesmo fenômeno, é fundamental na construção de novas e complexas compreensões de si e do mundo ao seu redor”, conclui.

Bruno Lima

Graduado em Jornalismo e História. Meste em História pelo Programa de Pós-graduação em História Social na Universidade de Brasília (UnB). Dedica-se a estudos de História do Brasil República, com ênfase na Era Vargas, direitos trabalhistas, História Social do Trabalho, Justiça do Trabalho, comunismo e anticomunismo e PCB nos anos 1930. Escreve regularmente sobre mestrado profissional em História (ProfHistoria) para o Café História.

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