Hoje, 24 de agosto de 2024, o Brasil lembra os 70 anos da morte de um dos maiores personagens da história política brasileira, Getúlio Vargas. Em um esforço para preservar a memória e os momentos históricos que marcaram o país, o projeto Brasiliana Fotográfica, uma parceria da Fundação Biblioteca Nacional e Instituto Moreira Salles, disponibilizou fotografias em alta resolução do velório e enterro de Vargas. Essas imagens inéditas permitem que os brasileiros vejam como o país viveu um dos momentos mais traumáticos da história republicana.
Getúlio Vargas, que governou o Brasil entre 1930 e 1945 e entre 1950 e 1954, cometeu suicídio no dia 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, onde então era a sede do governo federal. Seu gesto foi um ato extremo diante de uma intensa crise política e pressão de setores que exigiam sua renúncia. Vargas deixou uma carta-testamento que se tornou um documento emblemático, onde afirmou que saía da vida para entrar na história. Sua morte provocou uma comoção nacional e consolidou seu legado como uma figura central da política brasileira.
A carta-suicídio que Vargas deixou em agosto de 1954 tem duas versões, uma escrita de próprio punho e outra datilografada. As duas você tem acesso aqui.
Vargas foi o responsável por importantes transformações sociais e econômicas no Brasil, incluindo a criação das leis trabalhistas e a fundação de empresas estatais que impulsionaram o desenvolvimento industrial do país. Seu governo é lembrado tanto por avanços significativos quanto por momentos de autoritarismo, como o período do Estado Novo. As fotografias agora disponíveis oferecem um olhar detalhado sobre o luto coletivo que tomou conta do Brasil, revelando a profundidade do impacto de sua perda na sociedade da época.
Historiador fala do suicídio e da repercussão da morte de Vargas
O Café História conversou com o historiador Thiago Mourelle, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e historiador do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Mourelle é especialista no período Vargas e autor de diversos artigos e livros sobre o tema, como “O Brasil a caminho do Estado Novo”. Para ele, a morte de Vargas é a mais impactante e dramática de um líder político no país:
“Getúlio preferiu morrer fisicamente do que ver sua morte política. Um genial estrategista, que até na morte agiu politicamente. Afinal, a morte o absolveu… Foi de suspeito de uma tentativa de assassinado a homem injustiçado. E quem nunca sofreu uma injustiça? Quem não se solidarizaria e se revoltaria ao ver alguém preferir tirar a própria vida do que se ver condenado por uma acusação infundada? A morte de Vargas é a mais impactante e, certamente, a mais dramática, ação de um líder político brasileiro na história.
Mourelle também falou sobre a repercussão de sua morte, em agosto de 1954:
“Nas ruas, 3 mil pessoas ficaram feridas no caos da histeria coletiva que se seguiu. Pessoas chorando copiosamente, outros incrédulos, outros ainda revoltados. Automóveis foram virados, quebra-quebra, jornais da oposição apedrejados e incendiados… Era a ira do povo que se viu, de repente, sem o homem que havia criado a CLT, a Consolidação das Leis do Trabalho e se aproximado dele como nenhum outro presidente até então. Há quem diga que o suicídio de Vargas atrasou em 10 anos o golpe militar. Mas é uma suposição… A morte trágica marcou, de fato, Getúlio na memória coletiva. Na figura de um ditador violento, para uns; ou do presidente que mais fez pelos trabalhadores, para outros. Vargas nao é isto nem aquilo. Na verdade, é as duas coisas, juntas e misturadas! Uma incógnita complexa, que não merece um reducionismo a uma ou outra característica. E estava certo, em seu último ato em vida, ao dizer que sairia da vida para “entrar na História”. De fato entrou. Afinal, aqui estamos nós, 70 anos depois, falando sobre ele.”