Há basicamente duas modalidades de pós-graduação: a lato sensu e a stricto sensu. Ambos os termos derivam do latim, significando “sentido amplo” e “sentido específico”, respectivamente. A primeira modalidade tem, em média, duração de 360 horas, englobando cursos de MBA (Master Business Adminstration), mais comuns em Economia e Administração, e também os cursos de especialização, por exemplo, História do Brasil ou História Antiga. Nesta modalidade, o aluno tem muitas disciplinas, faz provas, ensaios e um trabalho de conclusão de curso. A segunda modalidade de pós-graduação refere-se aos cursos de mestrado e doutorado, onde há um grau muito maior de especialização. É no mestrado que o historiador começa a produzir novos sabres.
Mestrado profissional e mestrado acadêmico
Há dois tipos de mestrado: o acadêmico e o profissional. O mestrado acadêmico é o mais comum e antigo. Ele é procurado principalmente, mas não exclusivamente, por profissionais que desejam seguir a carreira acadêmica, ou seja, por aqueles que pretendem fazer da pesquisa científica a base do seu ofício. O mestrado profissional, por sua vez, é mais recente, sendo procurado por aqueles que buscam antes de tudo capacitação profissional, ainda que essa capacitação também envolva pesquisa e produção de conhecimento. Ambos estão dentro de “programas de pós-graduação”.
Uma universidade pode ter mais de um programa de pós-graduação. A Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, tem três: dois acadêmicos (História Social e História Comparada) e um profissional (ProfHistória). O ProfHistória, a propósito, é o mestrado profissional mais famoso na área, voltado para professores de História que atuam no Ensino Básico. Mas há também outros, como o Programa de Pós-Graduação em História Pública (PPGHP), criado recentemente pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), voltado para historiadores que atuam em diversos espaços públicos, de bibliotecas a museus.
Não tenho graduação em História. Posso fazer?
A resposta é simples e objetiva: sim. Qualquer pessoa pode fazer o mestrado em História, independente da área da graduação. Na verdade, a interdisciplinaridade de uma turma de mestrado é algo muito desejável: ela traz outras visões, outras interpretações, autores, etc. A dificuldade para quem não tem formação em História, mas quer fazer o mestrado na área, é o processo seletivo (veja aqui nossa série de três posts sobre o processo seletivo): a pessoa vai se deparar com temas e autores que podem lhes ser pouco familiares. Mas isso não é um impeditivo: basta ler e reler com cuidado a bibliografia. A História é democrática. É absolutamente possível passar no processo.
Quando eu era graduando, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), um dos meus professores de Teoria da História tinha graduação em Física, mas fez mestrado e doutorado em história, habilitando-se perfeitamente como historiador. Ele era especializado em história da ciência e epistemologia científica. Em outras palavras, não desanime caso você não tenha graduação em História.
Processo seletivo, disciplinas, qualificação, dissertação
O processo seletivo de um mestrado em História é variável, dependendo de cada programa de pós-graduação. Mas, em geral, ele tem as seguintes etapas: currículo, projeto de pesquisa, prova escrita, prova de entrevista e prova de língua. Em cada etapa, o candidato deve ter, pelo menos, nota 7 (sete) para ser aprovado. Uma vez aprovado, ele pode receber ou não bolsa, a depender de sua colocação e da oferta de bolsas naquele semestre. O valor da bolsa de mestrado, hoje, no Brasil, é de R$ 1.500,00. O Rio de Janeiro é o Estado brasileiro que mais tem cursos mestrados em História: UFRJ, UFRRJ, UERJ, UNIRIO, UFF, UERJ-FFP, PUC-RJ, FGV-RJ e UNIVERSO.
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Uma vez dentro do mestrado, o mestrado(a) pode encontrar realidades diferentes no que diz respeito ao número de disciplinas a serem cursadas: podem ser três, quatro e até cinco, com número de créditos variáveis. Algumas destas disciplinas não só podem, como devem ser feitas em outros programas de pós-graduação. O mestrando, por exemplo, pode fazer o mestrado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cursar uma disciplina na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Há muita oferta de disciplinas de cunho teórico e metodológico nos mestrados em História, já que os mestrandos e mestrandas possuem projetos de pesquisa bem diferentes. Uma disciplina que discute imprensa, por exemplo, pode contribuir para o trabalho de vários mestrandos e mestrandas. Porém, é possível encontrar disciplinas mais específicas, que tenham mais a ver com determinados projetos. Por isso, é importante ficar atento ao que acontece em outros programas de pós-graduação: eles podem oferecer disciplinas que tenha mais a ver com você e a sua pesquisa do que uma disciplina ofertada pelo seu próprio programa. Cada disciplina tem suas leituras, ritmos de debates e trabalho final, em geral, ensaio, artigo ou o projeto de pesquisa revisto.
A dissertação é o grande projeto do mestrado. Ela deve ser entregue e defendida perante uma banca (que pode ter entre 2 e 3 professores) em dois anos. Em casos excepcionais, esse prazo pode ser ampliado para dois anos e meio. Uma dissertação tem, em média, entre 150 e 200 páginas. Mesmo no caso do mestrado profissional, onde é possível desenvolver outros produtos, a dissertação é tradicionalmente exigida. Com um ano de mestrado, o mestrando faz ainda a “qualificação”, que é uma prévia da defesa. Parte da banca lê o material parcial e faz comentários, sugestões e, finalmente, aprova (ou não) o material apresentado. A qualificação diz se o candidato tem condições e seguir adiante.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é uma fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados brasileiros. É ela quem avalia os programas de pós-graduação no Brasil, por meio de uma nota que vai de 3 até 7. Antes de escolher o seu mestrado em História, procure saber qual nota ele recebeu.
Cotidiano de um mestrando
Deve-se entender que História é um curso com muita leitura. O graduando em História, desde o primeiro semestre, tem uma grande carga de leitura e isso é fundamental para a sua formação. Um grande leitor em História tem tudo para se tornar um grande profissional. No curso de Química, o estudante está sempre no laboratório. No curso de geologia, o trabalho de campo é fundamental. O estudante de medicina tem práticas cirúrgicas. A História é um curso das humanidades: é preciso ler. No mestrado, tudo isso apenas se intensifica. Ao invés de um texto por aula, o mestrando lê um ou mais livros por semana, discutindo-os com os seus colegas de classe. Então, durante a maior parte do tempo, um mestrando(a) está lendo. Isso é fundamental até mesmo para a parte prática, isto é, da pesquisa, afinal de contas, sem o domínio do debate historiográfico, é muito mais difícil compreender a documentação e fazer as perguntas corretas.
Além da leitura, o mestrado(a) participa de eventos acadêmicos, apresentando trabalhos e comunicações; faz encontros regulares com o orientador(a); faz trabalhos finais da disciplina; faz pesquisas em arquivos, bibliotecas e museus; participa de atividades de docência ao lado do orientador(a); participa da editoração de periódicos científicos; associa-se a grupos de pesquisas que envolvem outros mestrandos e doutorandos.
Para que serve o mestrado?
Diferente do que muitos imaginam, o mestrado em História não é apenas um título ou uma etapa para alguém que decidiu ter uma vida acadêmica. O mestrado em História é uma experiência muito mais rica. Faz-se mestrado em História, hoje, não só pela busca do conhecimento e da especialização, mas também para desenvolver habilidades e saberes que poderão ser empregados no dia a dia do profissional. Um professor que faz o mestrado estará em contato permanente com o que há de mais novo em termos de historiografia, podendo levar aos seus alunos novas interpretações, descobertas e metodologias; um historiador que atue como consultor ou em um arquivo público, poderá mobilizar questões próprias de seu local de trabalho e levá-las para a universidade, buscando encontrar soluções criativas. As possibilidades são infinitas.
Para quem segue a carreira acadêmica, finalmente, o mestrado é o primeiro momento em que o pesquisador vai tentar dar alguma contribuição mais efetiva para a historiografia. A dissertação é um trabalho de fôlego e bastante autoral, até mesmo solitário, baseado em pesquisa, em método científico e muita leitura da historiografia.
Em muitos casos, o título de mestre ajuda o profissional a ascender na carreira, ajudando a ter mais pontos em concursos e até mesmo a aumentar os seus vencimentos, principalmente se ele for funcionário público. No mais, contudo, o mestrado em História é uma experiência de descoberta, de prazer em estudar o passado de forma ainda mais recortada e profunda, de fazer contatos, redes de pesquisa e, claro, amizades.
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Mestrado em História: dicas para a prova escrita (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/mestrado-prova-escrita/. Publicado em: 15 set. 2017. ISSN: 2674-5917. Acesso: [informar data].
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Mestrado em História: dicas para o projeto de pesquisa (Matéria). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/mestrado-projeto-de-pesquisa/. Publicado em: 29 set. 2017. ISSN: 2674-5917. Acesso: [informar data].
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Mestrado em História: dicas para a etapa da entrevista (Matéria). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/mestrado-entrevista/. Publicado em: 22 set. 2017. ISSN: 2674-5917. Acesso: [informar data].
Como citar este artigo
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Como é o mestrado em História? (Artigo). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/como-e-o-mestrado-em-historia/. Publicado em: 06 jan. 2020. ISSN: 2674-5917.