Confira a carta de Pero Vaz de Caminha digitalizada

Documento é um dos mais valiosos do Arquivo da Torre do Tombo e ajuda a explicar eventos relacionados ao histórico dia 22 de abril de 1500.
22 de abril de 2019
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A data de 22 de abril marca a chegada dos portugueses ao território que hoje conhecemos como Brasil. Este primeiro encontro histórico dos lusitanos com as novas terras americanas foi registrado na conhecida “Carta do Achamento do Brasil” (ou “A Carta de Pero Vaz de Caminha”), escrita por Pero Vaz de Caminha (1450-1500), em Porto Seguro, entre 26 de abril e 2 de maio de 1500.

A carta de Pero Vaz de Caminha foi levada ao conhecimento do então Rei de Portugal, D. Manuel I, por meio do navio de Gaspar Lemos, que deixou o “Brasil” em 2 de maio rumo a Lisboa. Depois de conferir o seu conteúdo, o monarca português classificou o documento como secreto, a fim de proteger a informação dos espanhóis, e o passou o à Secretaria de Estado – leia aqui um pouco mais sobre este valioso documento histórico.

Carta de Pero Vaz de Caminha - Descobrimento do Brasil
Carta de Pero Vaz de Caminha (1500). Imagem: Arquivo da Torre do Tombo, Portugal.

Atualmente, a carta está no Arquivo da Torre do Tombo, que é o Arquivo Nacional de Portugal. Clique aqui para conferir o material, que se encontra totalmente digitalizado. Tem dificuldades em ler o material? Leia aqui a transição da Biblioteca Nacional.

Memória do Mundo

A Carta de Pêro Vaz de Caminha foi inscrita no Registo da Memória do Mundo, Programa da UNESCO, por recomendação do respectivo Comité Internacional Consultivo, reunido na China de 13 a 16 de Junho. Em 22 de Abril de 2013, na Torre do Tombo, foi apresentada e recitada “A carta de Pedro Vaz de Caminha”, projeto musical e composição de Rui Castilho de Luna, que celebrou a importância histórica do documento.

Âmbito e conteúdo da Carta de Pero Vaz de Caminha

De acordo com o Arquivo da Torre do Tombo: “a carta está datada de Vera Cruz, 1 de Maio e assinada por Pero Vaz de Caminha, escrivão da feitoria de Calecut, enviado por D. Manuel na armada de Pedro Álvares Cabral, e é o primeiro testemunho da existência de um mundo até então desconhecido dos povos ligados por contiguidade geográfica, o primeiro testemunho de uma realidade que mudou verdadeiramente a face da terra.

“Foi escrita no período crucial dos Descobrimentos, nos tempos em que a ciência náutica finalmente tornou possível fazer o reconhecimento do nosso planeta. As pessoas referidas na carta são, em primeiro lugar Pedro Álvares Cabral, o responsável pela armada, e outros, mencionados ou não, que faziam parte da expedição, eram capitães experientes, pertencentes a grandes famílias portuguesas, bem como grandes comerciantes florentinos”.

“A Carta faz um relato muito circunstanciado dos costumes dos habitantes da terra, o seu comportamento pacífico, mesmo dócil, suas casas, alimentação, vestuário, vários utensílios como arcos, setas, machados, aves, a cor da terra, os densos arvoredos, a inexistência de animais domésticos. É também de realçar a forma como Caminha se refere aos índios: a três séculos de Rousseau, vemos o olhar maravilhado perante o seu bom primitivismo, a sua ingenuidade, a sua inocência. É como que a antecipação do mito do bom selvagem, que Rousseau teorizou e que originou obras como Atala e René, de Chateaubriand, ou o Guarani, do brasileiro Alencar”.

"Desembarque de Cabral" (detalhe da pintura acima) - Oscar Pereira da Silva
Pintor brasileiro (1865-1959). Pero Vaz Caminha. Imagem: Museu Paulista
“Desembarque de Cabral” (detalhe da pintura acima) – Oscar Pereira da Silva
Pintor brasileiro (1865-1959). Imagem: Museu Paulista

Ainda de acordo com o arquivo, “a Carta foi escrita por uma testemunha presencial que acompanhou a armada e participou na expedição feita em terra firme, sob o comando de dois homens experientes, escolhidos por Cabral. Ele tinha a incumbência de transmitir ao rei todas as ocorrências e por isso esteve sempre no centro das operações. O tratado de Tordesilhas tinha sido assinado havia pouco tempo, e urgia comunicar a descoberta do novo mundo. A Carta guarda-se na Torre do Tombo no lugar próprio – nas inquirições, ou seja, os inquéritos a que se procedeu desde os primórdios da nacionalidade para se saber a situação dos bens e direitos da Coroa.

“A Carta é uma inquirição – de características específicas, decerto, próprias da natureza dos bens a inquirir. As descrições e confrontações habituais, tendo como pontos de referência acidentes geográficos diversos e bens de raiz dos mais diferentes senhorios, dão lugar ao relato dos sucessos primeiro da armada e por fim em terra firme. Em terra firme, a inquirição ganha contornos ímpares, pois que ímpar era a realidade. A Carta é, pois, um documento de arquivo que, devido à capacidade de observação, à cultura e ao talento do seu autor reúne a característica por excelência da obra literária – o prazer de a ler”.

Debates sobre a colonização portuguesa

Para além de Pero vaz de Caminha, a memória dos chamados “descobrimentos” em Portugal tem causado um grande debate público. Portugal deseja construir um “Museu dos Descobrimentos”, o que tem levado a uma série de críticas por parte de historiadores portugueses (veja aqui). O debate sobre a colonização portuguesa também tem sido bastante intenso – leia aqui uma entrevista.  

Tem interesse em Brasil Colonial? Então, confira aqui a nossa entrevista com a historiadora Leila Mezan Algranti, professora do Departamento de História da UNICAMP, que fala sobre os hábitos alimentares no Brasil dominado pelos portugueses.  

Como citar esta notícia

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Confira a carta de Pero Vaz de Caminha digitalizada (notícia). In: Café História – História feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/carta-de-pero-vaz-de-caminha. Publicado em: 22 abr. 2019.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

3 Comments Leave a Reply

  1. Cada vez mais me sinto feliz em ser historiador. Uma profissão que tem por principal objetivo imortalizar a História. Não podemos deixar morrer a História.

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