As operações marítimas da Primeira Guerra Mundial acabaram há mais de 100 anos. Mas ainda há, por aí, alguns poucos navios da época em operação. Um deles é brasileiro: o Laurindo Pitta, um simpático rebocador de alto-mar que participou em tarefas de apoio da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), criada em 30 de janeiro de 1918.
Em 26 de outubro de 1917, após o afundamento de navios brasileiros afundados por embarcações alemãs, o então presidente da República, Wenceslau Braz, assinou um decreto em que reconheceu o estado de guerra do Brasil com Alemanha. O Brasil participou da Grande Guerra enviando oficiais, médicos, enfermeiras e uma Divisão Naval. Seu objetivo era patrulhar a área marítima próxima da costa ocidental africana. A DNOG, como se tornou mais conhecida, era composta por 2 cruzadores, 3 contratorpedeiros, um tênder e um rebocador, o Laurindo Pitta.
Dificuldades inesperadas
O Laurindo Pitta foi construído na Inglaterra, nos estaleiros Vickers, Sons & Maxim Ltd, em 1910, por encomenda do governo brasileiro. Seu nome é uma homenagem a Laurindo Pitta, deputado que no início do século XX, no Congresso Nacional, foi responsável por assegurar leis e recursos que permitiram uma ampla reformas da marinha brasileira. Segundo o historiador Carlos Daróz, sua função na Divisão Naval Brasileira era prestar apoio logístico e auxiliar em caso de avarias.
Em agosto, os navios da DNOG pararam para reabastecimento no porto de Freetown, em Serra Leoa. Inadvertidamente, os marinheiros brasileiros foram contaminados com o vírus da influenza, causadora da gripe que nos próximos anos mataria milhões de pessoas no mundo. Depois que zarparam em direção a Dacar, no Senegal, as embarcações enfrentaram dificuldades. De acordo com Daróz, os brasileiros enfrentaram condições meteorológicas diversas, mar batido e ataques de submarinos.
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Quando chegaram a Dacar, a gripe começou a se manifestar. “Cerca de 70 marinheiros apresentaram, quase ao mesmo tempo, os sintomas da doença, sendo necessário interromper a atividade de reabastecimento”. Nos dias seguintes, o número de contaminado só amentou. Em pouco mais de dois meses, mais de 100 pessoas morreram e outras 140 foram enviadas para o Brasil em estado grave. “Ao todo, a doença atingiu cerca de 44% dos oficiais, 50% dos oficiais engenheiros-maquinistas, 37% dos mecânicos, 18% dos suboficiais, 27% dos marinheiros, 30% dos foguistas e 34% dos taifeiros da Divisão.” Era tanta gente doente e morrendo que a missão brasileira parecia comprometida.
Somente no início de novembro 1918, com a chegada de substitutos e homens recuperados, os navios da DNOG conseguiram sair de Dacar. Parte das embarcações retomaram a missão original e parte recebeu outras ordens. O Laurindo Pitta recebeu ordens de voltar ao Brasil. Em 10 de novembro, os navios que prosseguiram na missão chegaram a Gibraltar, um dia antes da assinatura do armistício que pôs fim à guerra. Ainda que a DNOG não tenha participado das ações de apoio e patrulhamento como havia sido previsto, o valor da divisão foi reconhecida pelas principais potências aliadas.
Super centenário ainda vivo
O Laurindo Pitta possui 39m de comprimento, 8m de boca, desloca 514t e tem velocidade máxima de 11 nós (cerca de 20 km/h). Depois da Grande Guerra, ele prestou serviço de rebocador ao Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e à Base Naval do Rio de Janeiro até a década de 90.
Em 1997, a Marinha restaurou o velho rebocador. Ele ganhou assentos para 90 passageiros e um dos seus compartimentos foi adaptado para receber uma exposição permanente chamada “A Participação da Marinha na Primeira Guerra Mundial”. Mas ele não virou somente um museu. O Laurindo Pitta continua ativo, empregado na realização do Passeio Marítimo pela Baía de Guanabara. Em seu passeio, o rebocador passa ao largo das Ilhas das Cobras, Fiscal, das Enxadas e Villegagnon e da cidade de Niterói. É possível também realizar eventos a bordo do Laurindo Pitta.