Relacionamento entre pais e filhos interfere em práticas de importunação entre adolescentes. Bullying pode resultar em traumas na vítima. Descoberta contribui na prevenção à importunação no ambiente escolar.
Agência Bori
Um novo estudo sugere que a boa convivência entre pais e filhos dentro de casa reduz o impacto do bullying no ambiente escolar entre adolescentes. Segundo a pesquisa, a relação de confiança e comunicação não violenta na família inibe a prática e, em casos de vítimas, protege de traumas resultantes de ações violentas, físicas ou psicológicas, intencionais e repetitivas. É o que apontam cientistas da Universidade de São Paulo (USP) em pesquisa publicada na edição de dezembro de 2019 da revista “Estudos de Psicologia”.
Interessados em investigar fatores que levam à importunação entre alunos nas escolas, os pesquisadores aplicaram questionários em 2.354 estudantes com média de idade de 14 anos de onze colégios públicos da cidade de Uberaba, no interior de Minas Gerais. As perguntas dos questionários se basearam na Escala de Qualidade da Interação Familiar – que mede nove fatores de interação familiar, como envolvimento, regras e monitoramento, comunicação positiva e punição corporal -, e na Escala de Agressão e Vitimização por Pares, que analisa práticas de perseguição e vitimização. O estudo também teve uma etapa qualitativa, com aplicação de entrevistas com 55 estudantes selecionados da amostra.
Os resultados mostram o tipo de ambiente familiar está associado a situações de intimidação, seja de quem comete ou de quem a sofre, não limitando-se à escola. Segundo o pesquisador Wanderlei Oliveira, a descoberta pode ser incorporada ao Programa Estratégia da Saúde da Família, auxiliando no combate a esse tipo de situação. “Nós identificamos que a comunicação familiar é importante, e que os métodos de disciplina dos pais precisam ser revistos. A partir disso, profissionais de saúde podem orientar as famílias para uma mudança de comportamento”, explica Wanderlei.
Próximos passos
A investigação propõe um modelo teórico inédito no Brasil para explicar as relações entre o bullying e as variáveis familiares. Entram neste esquema fatores macrossociais, como as condições socioeconômicas da família, e fatores microssociais, associados à experiência dentro de casa.
Os próximos passos do estudo, de acordo com Wanderlei, envolvem entender a relação entre esses fatores de proteção ao bullying e o gênero dos adolescentes. “Indícios já sugerem que a comunicação não violenta funciona mais com meninas, enquanto a má comunicação e a punição física aumentam as chances dos meninos se envolverem em situações”, comenta Wanderlei. Com informações mais precisas, os profissionais podem formular intervenções familiares ainda mais específicas.