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Por que acadêmicos (e estudantes) deveriam levar o uso de mídias sociais a sério

Atualmente os blogs são uma parte bem estabelecida da esfera pública, especialmente nas discussões sobre “Desenvolvimento Internacional”1. Duncan Green, no entanto, acha que falta a Academia se apropriar deles. No presente artigo, ele descreve os principais argumentos para se levar o blogar e as mídias sociais a sério – o que não precisa se tornar mais um compromisso na agenda cheia dos pesquisadores. Ler um blog, ele diz, deveria ser como ouvir a conversa de uma pessoa, só que com links.

Por Duncan Green

Tradução: Ana Paula Tavares e Bruno Leal

Antes de começar a ensinar na London School of Economics (LSE),2 eu tinha a impressão de que seus acadêmicos e pesquisadores eram experientes em mídias sociais – tuiteiros prolíficos como Charlie Beckett e blogs de qualidade, como o LSE Impact, afinal de contas, estão no topo da lista dos perfis que eu sigo.

Descobri que a impressão era, vamos dizer, um pouco errada. Uma boa parte das pessoas que eu encontrei aqui podem ser brilhantes em sua área, mas quando se trata de usar as interwebs,3elas parecem o juiz que em 1960 perguntava “O que é um Beatle?” (“Eu não tuito”).4 Grande parte da vida dos pesquisadores se restringe ao espaço das consagradas das revistas acadêmicas de acesso pago (quando eu falei que ninguém fora da academia lê isso, a resposta desconcertada parecia estar na linha de “e o que é que tem?”).

Blogs também estão, atualmente, na linha de frente da divulgação científica. Foto: Pixabay.

Ora, por que os acadêmicos deveriam repensar isso? Aqui estão alguns argumentos iniciais, limitados aos blogs e ao Twitter (as únicas mídias sociais nas quais eu me engajo). Eu estou convencido de que há muitas outras – sintam-se livres para acrescentar:

1– Lembre-se de que um blog é um diário online. Blogar regularmente permite criar um arquivo acessível e que economiza tempo. Eu tenho blogado diariamente desde 2008. OK, isso é um pouco demais, porém isso significa que eu tenho um registro da minha atividade cerebral nos últimos 7 anos – quase todos os livros e artigos que eu li, conversas e debates de que participei. Sempre que alguém vem me consultar, eu tenho um conjunto de links que posso enviar (o que me economiza muito tempo). E muita matéria-prima para a próxima apresentação, artigo ou livro.

2 – Você pode ter certeza de que alguém vai ler a sua pesquisa. Basta checar o que diz o blog o LSE Impact. Aqui estão algumas postagens que encontrei numa busca rápida:

Escrever sobre um artigo acadêmico em um blog provoca um grande aumento do número de visualizações de resumos e de downloads naquele mês: um impacto médio de mais 70-95 leituras de resumo no caso do blog Watch Watch (agora infelizmente fora do ar) e do blog de Chris Blattman, de 135 do Economix, de 300 para o Marginal Revolution e de 450-470 para os blogs Freakonomics e Krugman. [Veja a tabela aqui e a seguir]

Esses aumentos são maciços se vistos em comparação com as visualizações de resumo normais e de downloads desses trabalhos, uma postagem de blog no Freakonomics é equivalente a 3 anos de visualizações de resumos de modo convencional! Porém, apenas uma minoria de leitores clica –  estimamos que 1-2% dos leitores dos blogs mais populares clicam nos links para ver os resumos e que este percentual é de 4% em um blog como o de Chris Blattman, que provavelmente possui leitores mais especializados.

O blog LSE Impact também possui bons artigos sobre o Twitter, entre os quais:

3 – Essa atuação online lhe dá um pouco de poder, que chamamos de soft power (não vamos exagerar nesse ponto, mas verifique o slide 15 desta apresentação de pesquisa [ppt] para obter algumas evidências). Os blogs são bem-estabelecidos na esfera pública, então você tem a chance de divulgar suas melhores ideias e fazer circular as ideias de outros. É possível que pessoas da sua instituição leiam seu blog e tuítes mesmo que elas não leiam seus e-mails.

4 – Blogar é um grande antídoto contra esse sentimento de anticlímax e de futilidade que vem depois de você enviar o manuscrito do livro ou artigo, momento este em que, de repente, a verdadeira indiferença do universo se torna aparente. Você pode continuar discutindo e se comunicando com pessoas interessantes, e manter a crise existencial à distância.

5 – E não se esqueça da possibilidade de receber livros gratuitos para resenhar.

6 – E a chance de insultar publicamente seus inimigos (não é relevante no meu caso, óbvio, pois não tenho nenhum).

“Eu não tenho tempo”

O contra-argumento é certamente “não temos tempo”; mas se você demorar muito escrevendo o texto, isso provavelmente significa que o seu blog não será muito acessível. Ler um blog deve ser como ouvir a conversa de uma pessoa, só que com links. Esta publicação que você está lendo, por exemplo, me demandou 30 minutos para escrever, incluindo a “pesquisa”.

Talvez a aparente maior eficiência de uso do tempo do Twitter possa explicar porque esta rede tem mais participação da Academia do que os blogs (embora eu apenas tenha notado isso escrevendo este post e fazendo-o circular!). Na faculdade de Desenvolvimento Internacional (incluindo colegas honorários e professores na ativa), temos Owen Barder, Priuria BehuriaMayling Birney, Benjamin Chemouni , Jean Paul Faguet, Danny Quah , Keith Hart, Sohini Kar, Silvia Masiero, Rajesh Venugopal e Kevin Watkins. Sentiu falta de alguém? Ah, sim, eu.

Se você está interessado em mergulhar no oceano das mídias sociais, aqui estão algumas dicas para blogueiros sobre o desenvolvimento internacional e um esforço anterior meu a fim de convencer os céticos. Mas o melhor é apenas experimentar e ver no que dá. No mínimo, siga Chris Blattman para ver como é feito.5


Notas 

1 Termo se refere ao desenvolvimento socioeconômico das nações. Ver detalhamento da área de estudo na descrição do curso da Universidade de Toronto. http://www.utsc.utoronto.ca/ccds/what-international-development-studies ou da própria London School of Economics http://www.lse.ac.uk/internationalDevelopment/home.aspx. Ambas em inglês.

2 Ele começou a lecionar na LSE em janeiro de 2015.

3 Nota dos tradutores: Segundo a definição do “Dicionário Informal”, Interwebs é uma “forma sarcástica de se referir à internet. Geralmente usado em paródias que descrevem as ações de usuários inexperientes na internet. Exemplo: Onde você conseguiu isto? Na Interwebs, é claro!”. Fonte: Dicionário Informal.

4 Em inglês, há uma sonoridade parecida entre “Beatle” e “Twitter”. A menção se refere a uma história – embora nunca comprovada – de que um juiz da mais alta corte britânica teria perguntado, nos anos 1960, auge da Beatlemania, o que era um “Beatle”.

5 Este texto foi publicado originalmente no blog do departamento de Desenvolvimento Internacional da LSE.


Duncan Green é Consultor estratégico sênior da Oxfam GB e Professor do Departamento de Desenvolvimento Internacional da LSE. Também é autor do livro “From Poverty to Power”. Seu twitter é: @fp2p. Este texto foi trazuzido de acordo com a licença Creative Commons do blog LSE Impact, onde encontra-se o original [clique aqui para ler].


Como citar este artigo

GREEN, Duncan. Porque acadêmicos (e estudantes) deveriam levar o uso de mídias sociais a sério (Artigo). Tradução de Ana Paula Tavares Teixeira e  Bruno Leal Pastor de Carvalho. In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/blog-twitter-na-academia. Publicado em: 10 Jul 2017. Acesso: [informar data].

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