Black Bird: tensão e suspense em cada cena

Black Bird é uma minissérie em 6 episódios do canal Apple TV + baseada no livro "In with the Devil: a Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption", escrito por James Keene e Hillel Levin e publicado pela primeira vez em 2010.
18 de outubro de 2022
por
Black Bird: tensão e suspense em cada cena 1
Cena de "Black Bird" - Foto Divulgação.

James Keene era um atleta de high school que, por não ingressar em nenhuma faculdade, acabou enveredando para o mundo do crime, mais precisamente, para o tráfico de drogas. Ramo no qual descobriu sua grande capacidade “empreendedora” e aprimorou táticas muito eficazes de manipulação e sedução. Keene viveu uma história de ascensão e queda meteóricas – em questão de pouco tempo perdeu o status de jovem milionário e foi condenado a cumprir uma pena de 10 anos de cadeia federal pelo tráfico de cocaína e porte de armas pesadas.

Para um jovem atraente e arrogante 10 anos de prisão já seriam um enorme tormento, porém, para piorar ainda mais a situação, seu amado pai, o ex-policial Big Jimm Keene, adoece gravemente. Jimmy enxerga o tempo de seu pai na terra se esvair enquanto ele cumpre a pena. Convenientemente nessa hora o FBI aborda Jimmy na cadeia e oferece a ele o cancelamento de sua pena, em contrapartida Keene precisaria se infiltrar em uma cadeia de segurança máxima e arrancar uma confissão do suposto serial Killer Larry Hall. O livro conta a história de como Keene construiu uma amizade com Hall, com o intuito de arrancar uma confissão e a localização dos corpos de suas vítimas.

O criador, roteirista e escritor Dennis Lehane é bastante conhecido por seus trabalhos em séries como The Wire (HBO – 2002) e Boardwalk Empire (HBO – 2013) ou como o autor de livros que geraram sucessos de bilheteria como Mystic River (2003) ou Gone Baby Gone (2007). Em Black Bird ele é responsável pela adaptação do livro de Jimmy Keene para o canal de streaming da maçã. Lehane faz um primoroso trabalho de roteirista conseguindo nos prender a cada cena com uma tensão e um suspense que se só aumentam até o último capítulo.

Para o papel de Jimmy, foi escolhido o jovem ator Taron Egerton, que alcançou fama mundial ao interpretar primorosamente o músico Elton John na biopic Rocketman (2019). Taron resolve muito bem a tarefa, talvez bem até demais, em alguns momentos percebemos um claro overplaying, dando um exagero por vezes caricato e desnecessário às reações do personagem. Já o outro protagonista, o serial killer Larry Hall, nos oferece um show de interpretação pelas mãos ator Paul Walter Hauser, que mais recentemente atuou como Raymond, um nerd fã de karatê na série Cobra Kai (Netflix – 2019).

Black Bird: tensão e suspense em cada cena 2
Cena de “Black Bird” – Foto Divulgação.

O Larry de Hauser é uma figura aterrorizante, é material de pesadelos para qualquer pessoa com sangue nas veias. Hauser rouba todas as cenas em que aparece, e mesmo assim poderia, como Taron, pesar um pouco menos a mão.

A parte realmente triste dessa produção é ser marcada pela última participação de Ray Liotta antes de sua despedida do plano terreno. Ray faz o pai adoecido de Jimmy, e não temos como evitar o desconforto sabendo do óbito do ator logo após as filmagens. Porém em uma obra onde o desconforto é o objetivo central, isso, macabramente, parece vir a adicionar e não subtrair.

Black Bird é desalentador e angustiante. A fotografia é usada para ressaltar esse clima sem que tenhamos pausas para respirar. A única pequena falha que pude identificar, e que realmente protagonizou alguns anti-climax para mim, foi a edição e a escolha musical. Muitas vezes ela quebra a tensão ou exagera desnecessariamente o clima dramático. Raramente percebi isso de forma tão forte como em Black Bird, infelizmente. A trilha original montada para a série, que se passa em boa parte em meados dos anos 1990, a seleção musical deixou muito a desejar, apostando em bandas que sumiram no anonimato (merecidamente) como Crash Test Dummies e outros hits bem manjados de bandas como Guns’N’Roses ou Soundgarden. Menção honrosa para a parte da curadoria musical que pensou em colocar Mogwai e Elbow na lista.

Aos poucos parece não sobrar mais muita opção no catálogo noventista com a nova moda de situar (e contar) histórias da época. Mas aqui, claramente, caímos numa questão muito mais dependente do gosto pessoal do que técnica.

Black Bird não decepciona. Uma história “real” – pois sua adaptação, claro, exige algumas liberdades artísticas nas escolhas- que nos prende e entretém. O difícil depois é não continuar enxergando o rosto do Larry feito por Hauser nos cantos escuros da casa.

Tais Zago

Tem 46 anos. É gaúcha que morou quase a metade da vida na Alemanha mas retornou a Porto Alegre. Se formou em Design e fez metade do curso de Artes Plásticas na UFRGS, trabalha com TI mas é apaixonada por cinema.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

Don't Miss