Em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tomará posse como 47º presidente dos Estados Unidos, tornando-se o primeiro presidente a cumprir dois mandatos não consecutivos desde Grover Cleveland, em 1892, e apenas o segundo na história. Sua reeleição, depois de um primeiro mandato (2016-2020) marcado por violência política e pela ascensão da extrema-direita, suscita debates sobre o impacto de suas políticas na ordem mundial, economia global e relações diplomáticas.
Nas últimas semanas, Trump jogou no ar suas intenções de incorporar o Canadá como um estado americano e até falou em conquistar a Groenlândia, o que causou reações de indignação na Europa, sobretudo por parte das autoridades alemãs. Semana passada, o chanceler alemão, Olaf Scholz, destacou que “o princípio da inviolabilidade das fronteiras se aplica a todos os países, independentemente de serem muito pequenos ou muito poderosos”.
Mas o que esperar realmente deste segundo mandato de Trump? O Café História conversou com alguns historiadores a respeito de suas expectativas para o que a seguir, nos próximos anos. Lindener Pareto, que apresenta o programa “Provocação histórica”, do ICL Notícias disse que “entre tantas distopias arregimentadas pelo novo (velho) governo Trump, a que mais me intriga é a estreita relação entre ele e o magnata bilionário Elon Musk. Com a dupla, o futuro só poderá ser tenebroso.”
A política externa de Trump
Já o historiador Abner Francisco Sótenos, professor no Departamento de Estudos Africanos da San Diego State University (SDSU) e doutorando em História da América Latina na University of California, San Diego (UCSD), destacou a questão da política externa:
“O governo Trump, com Marco Rubio desempenhando um papel-chave na política externa, deve priorizar uma abordagem dura contra regimes que eles consideram autoritários na América Latina, como Venezuela, Cuba e Nicarágua, enquanto tentará conter a influência da China e da Rússia na região”.
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Sótenos também falou de suas expectativas para o Brasil:
“Para o Brasil, espera-se um foco em acordos comerciais estratégicos e na cooperação em questões de segurança regional, embora o alinhamento dependa das políticas do governo brasileiro também. Rubio, conhecido por sua postura conservadora e influência sobre a política latino-americana, deve fortalecer as relações com aliados enquanto promove uma agenda de sanções e pressão econômica contra governos considerados antidemocráticos”.
Protecionismo e imigração
Outro historiador com quem conversamos foi Marcos Sorrilha, professor do Departamento de História da Universidade Estadual Paulista e dono do Canal do Sorrilha. Sorrilha, especialista em História dos Estados Unidos, já escreveu artigo para o Café História sobre A Revolução Americana e, recentemente, nos deu uma ótima entrevista sobre Trump. Ao falar, agora, sobre o próximo mandato de Trump, o historiador destacou o “perfil confrontador” de Trump em várias áreas:
“A previsão para o próximo mandato de Donald Trump é de turbulências, tanto devido ao seu perfil confrontador quanto à possível implementação de suas promessas de campanha. Se ele avançar com o plano de deportação em massa, por exemplo, isso poderá desencadear conflitos entre o governo federal e os estados governados por democratas, especialmente no que diz respeito ao uso da Guarda Nacional para executar essa política”.
Na esfera econômica, Sorrilha disse acreditar que a adição de tarifas alfandegárias mais altas pode levar a uma “guerra comercial em escala global”, o que poderia colocar os EUA em “rota de colisão” com o Canadá e a Europa. “Contudo”, ponderou, “ainda não está claro até que ponto Trump está realmente disposto a implementar essas propostas”. O historiador lembra que, recentemente, Trump “reviu sua posição sobre os vistos de trabalho da categoria H-1B, manifestando apoio à manutenção da contratação de estrangeiros para cargos de alta especialização. Essa mudança gerou divisões dentro de sua base de apoio.”
Sorrilha ainda falou sobre sua relação com Musk e o nacionalismo cristão, questões com fundo histórico que costumam preocupar historiadores, minorias e ativistas de direitos humanos:
“Atualmente, o governo Trump parece sustentado por duas alas principais. De um lado, a ala dos bilionários de tecnologia, liderada por figuras como Elon Musk, que adota um discurso libertário e pró-mercado. De outro, a ala do Nacionalismo Cristão, que defende políticas de protecionismo econômico e restrições mais rígidas à imigração. A decisão de Trump de favorecer os bilionários na questão dos vistos sugere um alinhamento com essa ala, levantando dúvidas sobre a extensão da influência de Musk no novo governo e sobre o quanto Trump estará disposto a atender às demandas da ala nacionalista. Esse cenário aponta para um futuro marcado por constantes atritos entre essas duas facções dentro do governo. A dificuldade em eleger um novo presidente da Câmara dos Deputados pode servir como um indicador claro das tensões internas e da capacidade de coesão política no governo”.