Historiadores dizem o que esperam do novo mandato de Donald Trump

Em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tomará posse como 47º presidente dos Estados Unidos. O que esperar deste novo mandato? Veja o que dizem os historiadores.
15 de janeiro de 2025
Foto mostra alguém vestido com uma máscara de Donal Trump e terno.
Donald Trump se prepara para um segundo mandato presidencial. Foto: Darren Halstead.

Em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tomará posse como 47º presidente dos Estados Unidos, tornando-se o primeiro presidente a cumprir dois mandatos não consecutivos desde Grover Cleveland, em 1892, e apenas o segundo na história. Sua reeleição, depois de um primeiro mandato (2016-2020) marcado por violência política e pela ascensão da extrema-direita, suscita debates sobre o impacto de suas políticas na ordem mundial, economia global e relações diplomáticas.

Nas últimas semanas, Trump jogou no ar suas intenções de incorporar o Canadá como um estado americano e até falou em conquistar a Groenlândia, o que causou reações de indignação na Europa, sobretudo por parte das autoridades alemãs. Semana passada, o chanceler alemão, Olaf Scholz, destacou que “o princípio da inviolabilidade das fronteiras se aplica a todos os países, independentemente de serem muito pequenos ou muito poderosos”.

Mas o que esperar realmente deste segundo mandato de Trump? O Café História conversou com alguns historiadores a respeito de suas expectativas para o que a seguir, nos próximos anos. Lindener Pareto, que apresenta o programa “Provocação histórica”, do ICL Notícias disse que “entre tantas distopias arregimentadas pelo novo (velho) governo Trump, a que mais me intriga é a estreita relação entre ele e o magnata bilionário Elon Musk. Com a dupla, o futuro só poderá ser tenebroso.”

A política externa de Trump

Já o historiador Abner Francisco Sótenos, professor no Departamento de Estudos Africanos da San Diego State University (SDSU) e doutorando em História da América Latina na University of California, San Diego (UCSD), destacou a questão da política externa:

“O governo Trump, com Marco Rubio desempenhando um papel-chave na política externa, deve priorizar uma abordagem dura contra regimes que eles consideram autoritários na América Latina, como Venezuela, Cuba e Nicarágua, enquanto tentará conter a influência da China e da Rússia na região”.

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O livro do historiador Bruno Leal, professor da Universidade de Brasília e criador do Café História, é um dos mais vendidos nas categorias “Ensino e Estudo” e “Historiografia” da Amazon. O livro está disponível para leitura no computador, no celular, no tablet ou no Kindle. Mais de 80 avaliações positivas de leitores. Confira aqui.

Sótenos também falou de suas expectativas para o Brasil:

“Para o Brasil, espera-se um foco em acordos comerciais estratégicos e na cooperação em questões de segurança regional, embora o alinhamento dependa das políticas do governo brasileiro também. Rubio, conhecido por sua postura conservadora e influência sobre a política latino-americana, deve fortalecer as relações com aliados enquanto promove uma agenda de sanções e pressão econômica contra governos considerados antidemocráticos”.

Protecionismo e imigração

Outro historiador com quem conversamos foi Marcos Sorrilha, professor do Departamento de História da Universidade Estadual Paulista e dono do Canal do Sorrilha. Sorrilha, especialista em História dos Estados Unidos, já escreveu artigo para o Café História sobre A Revolução Americana e, recentemente, nos deu uma ótima entrevista sobre Trump. Ao falar, agora, sobre o próximo mandato de Trump, o historiador destacou o “perfil confrontador” de Trump em várias áreas:

“A previsão para o próximo mandato de Donald Trump é de turbulências, tanto devido ao seu perfil confrontador quanto à possível implementação de suas promessas de campanha. Se ele avançar com o plano de deportação em massa, por exemplo, isso poderá desencadear conflitos entre o governo federal e os estados governados por democratas, especialmente no que diz respeito ao uso da Guarda Nacional para executar essa política”.

Professor Marcos Sorrilha, de camisa quadriculada, sorri para foto. Ele falou ao Café História sobre o que espera para Trump 2.
Marcos Sorrilha é professor da Universidade Estadual Paulista. Foto: reprodução.

Na esfera econômica, Sorrilha disse acreditar que a adição de tarifas alfandegárias mais altas pode levar a uma “guerra comercial em escala global”, o que poderia colocar os EUA em “rota de colisão” com o Canadá e a Europa. “Contudo”, ponderou, “ainda não está claro até que ponto Trump está realmente disposto a implementar essas propostas”. O historiador lembra que, recentemente, Trump “reviu sua posição sobre os vistos de trabalho da categoria H-1B, manifestando apoio à manutenção da contratação de estrangeiros para cargos de alta especialização. Essa mudança gerou divisões dentro de sua base de apoio.”

Sorrilha ainda falou sobre sua relação com Musk e o nacionalismo cristão, questões com fundo histórico que costumam preocupar historiadores, minorias e ativistas de direitos humanos:

“Atualmente, o governo Trump parece sustentado por duas alas principais. De um lado, a ala dos bilionários de tecnologia, liderada por figuras como Elon Musk, que adota um discurso libertário e pró-mercado. De outro, a ala do Nacionalismo Cristão, que defende políticas de protecionismo econômico e restrições mais rígidas à imigração. A decisão de Trump de favorecer os bilionários na questão dos vistos sugere um alinhamento com essa ala, levantando dúvidas sobre a extensão da influência de Musk no novo governo e sobre o quanto Trump estará disposto a atender às demandas da ala nacionalista. Esse cenário aponta para um futuro marcado por constantes atritos entre essas duas facções dentro do governo. A dificuldade em eleger um novo presidente da Câmara dos Deputados pode servir como um indicador claro das tensões internas e da capacidade de coesão política no governo”.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas, justiça no pós-guerra e as duas guerras mundiais. Autor de "Quero fazer mestrado em história" (2022) e "O homem dos pedalinhos"(2021).

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