Foi a partir das atividades realizadas em um grupo de estudos sobre relações étnico-raciais que a professora Ana Karlla Messias pensou em criar uma cartilha que pudesse auxiliar outros professores em práticas e abordagens antirracistas. O material é resultado da dissertação “Kantayeni: Cartilha Interativa de Ensino de História Afro Feminista”, defendida por Ana Karlla, em 2022, no Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe. A cartilha pode ser acessada aqui e a dissertação pode ser lida aqui.
“As atividades da cartilha foram organizadas através do Grupo de Estudos Tereza de Benguela situado na Escola Djalma Matheus Santana, Arapiraca-Alagoas, composto por alunas das séries finais do Ensino Fundamental, realizando debates, trocas de experiências cotidianas, análises de imagens em oficinas artísticas e produção textual que serviram de suporte pedagógico para que a valorização da identidade afro-feminista seja vista sob o prisma da criticidade e do empoderamento nas alunas”, explica Ana Karlla.
O trabalho está dividido em quatro partes. No primeiro capítulo, a autora detalha o percurso teórico escolhido para abordar o tema e conta sobre como a pesquisa foi influenciada pelas experiências vividas em sala de aula. Em seguida, ela trata do processo de marginalização e exclusão do povo negro em Alagoas e da construção de uma identidade afro-alagoana. O terceiro capítulo é dedicado aos resultados das atividades do Grupo de Estudos Tereza de Benguela. Por fim, é apresentado o processo de elaboração da cartilha.
“Dentre os objetivos específicos, pretendeu-se evidenciar como podemos potencializar o protagonismo negro feminino no ensino fundamental e o sentimento de identidade étnico-racial. E demonstrar, através do ensino de História, o papel da ancestralidade africana e a construção colaborativa em uma educação antirracista”, afirma Ana Karlla.
Feminismo negro
Professora de História da rede pública de ensino de Alagoas há quinze anos, Ana Karlla teve passagens pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma comunidade quilombola e também foi supervisora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) em um projeto institucional em parceria com a Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) e a CAPES. Ela conta que, a partir dessas experiências, sentiu necessidade em aprofundar os estudos sobre feminismo negro e abordagens antirracistas.
“Diante dessas reflexões, surge a ideia de criar um grupo de estudos para meninas que se identifiquem com a temática das relações étnico-raciais, para que assuntos sobre racismo estrutural, feminismo negro e machismo fossem debatidos, além de incentivar processos artísticos aliados ao ensino, para que os (a) estudantes compreendessem como seus posicionamentos contribuem nesse percurso e se transformam em estratégias de reexistência nas disputas cotidianas”, ressalta Ana Karlla.
Durante mais de dois anos, o Grupo de Estudos Tereza de Benguela reuniu cerca de 20 meninas entre 13 e 16 anos para exibição de filmes, oficinas, webnários e rodas de conversas. “A partir das intervenções e abordagens que adotamos no Grupo de Estudos Tereza de Benguela buscou-se sistematizar uma Cartilha Afro-Feminista do Ensino de História, compartilhando experiências replicáveis para que outros docentes possam redimensionar suas práticas para uma educação antirracista e feminista, onde as questões da diversidade sirvam de instrumento para o ensino-aprendizagem e como reflexão crítica do contexto socioeconômico, político e cultural dos alunos”, propõe Ana Karlla.
A cartilha digital utiliza QR Codes e links que direcionam para vídeos, blogs, sites, podcasts, cordéis autorais e outras referências sobre o tema. O material tem sua Propriedade Intelectual registrada no Creative Commons. O nome da cartilha (Kantayeni) é de origem yorubá e significa “vá e se lance ao longe”, uma referência à proposta de se ampliar o debate sobre práticas antirracistas na educação básica. “A luta antirracista é um compromisso ético profundo de renúncia e problematização, pois não é só perceber as desigualdades, mas identificar um lugar de incômodo e de intervenção”, conclui Ana Karlla.
Sugestão e leitura
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