Há quase dois anos, profissionais e instituições de diferentes áreas começaram a arquivar experiências de pessoas comuns durante a pandemia do novo coronavírus, de forma a preservar parte deste histórico momento para as gerações futuras. Reconhecendo a importância dessa memória, o Centro de Humanidades Digitais (CHD), vinculado ao departamento de História da Unicamp, tem monitorado e mapeado esse tipo de projeto. Até o momento, foram registrados 82 deles, de distintas regiões do Brasil e com diversos focos de observação.
Dentre os projetos catalogados pelos profissionais do CHD há, por exemplo, trabalhos voltados para a coleta de narrativas sobre maternidade na pandemia e estudos sobre o enfrentamento da COVID-19 em favelas. O acervo produzido pelo CHD recebe o nome de CoronaArquivo e contém um formato de apresentação bastante original.
Segundo Thiago Nicodemo ‒ líder do Grupo de Pesquisa “Memória digital: Arquivo e Documento Histórico no Mundo Contemporâneo”, que realiza o projeto ‒ esse modelo de tratamento dos dados permite que os mais diversos projetos de memória da pandemia possam ser encontrados em um único lugar. O pesquisador afirma que o CHD tem realizado o estudo das mais diversas formas de coleta das memórias da pandemia.
Segundo Nicodemo, a análise dessas formas de coleta ‒ que incluem podcasts, edição de livros, cartas, narrativas de história oral ‒ representa um promissor modelo para políticas de preservação, que garantam acesso a diferentes tipos de documentos no futuro.
Os pesquisadores do CHD desenvolvem um trabalho interativo na catalogação dos projetos. Ou seja, ao mesmo tempo em que monitoram a ocorrência dos trabalhos voltados para a memória da pandemia, também recebem contribuições do público para o processo de catalogação. Após realizarem um tratamento dos dados ‒ que incluem a descrição dos nomes, estados de origem e formas de coleta de cada projeto ‒ organizam uma linguagem dinâmica para apresentar as informações ao público.
Esse trabalho de catalogação tem sido realizado por meio de planilhas compartilhadas e pelo software Power BI. Mas, como toda pesquisa, o CoronaArquivo está em constante processo de avaliação e seus pesquisadores pretendem utilizar outros programas de tratamento de dados. Segundo Ian Marino, pesquisador do CHD, já é possível acompanhar, além do CoronaArquivo Brasil, um cenário mais amplo, de alcance internacional, dedicado à América Latina, o CoronaArquive – Latin America.
Pesquisa interativa
Ao navegar pelo CoronaArquivo Brasil, é possível visualizar um dashboard que permite a visualização dos 72 projetos já catalogados, junto de um mapa que apresenta a localização das instituições responsáveis por cada um deles. Na ferramenta, os projetos estão listados por nome, e ao clicar em algum de sua escolha, o pesquisador visualiza informações, como: uma breve descrição do projeto, sua instituição de origem, composição do acervo e links para acessar suas páginas principais na internet.
O dashboard também apresenta uma nuvem de palavras que destaca os termos que mais aparecem nas descrições dos 72 projetos, dentre eles estão “pandemia” e “COVID”. Essa ferramenta de visualização online também apresenta dados quantitativos sobre as mídias, o modo de coleta e o tipo de documentação utilizados nos projetos.
Já no mapa interativo, é possível navegar por diferentes pontos do país, onde estão destacados os Memoriais da COVID-19 no Brasil, nas categorias “Projetos de Arquivamento”, “Memoriais Digitais”, “Monumentos Construídos” e “Grafites”. A maioria dos monumentos e grafites catalogados estão acompanhados de fotografias e descrições dos artistas e da obra. Com essa variedade de registros e de compartilhamento de informação, o CoronaArquivo Brasil é um bom espaço para quem procura por projetos sensíveis de memória da pandemia.
Arquivo colaborativo
Você organiza projetos de memória da pandemia do novo coronavírus ou conhece algum trabalho que ainda não esteja no Corona Arquivo? É possível contribuir para a catalogação de novos projetos ao preencher esse formulário. O acervo é construído de forma colaborativa e segundo os pesquisadores do CHD contribuições são bem-vindas.