Acordos de Paz de Oslo: 20 anos depois

Acordos de paz assinados na Noruega por autoridades palestinas e israelenses completam vinte anos em 2013. O Café História lembra o que foram esses acordos e algumas de suas repercussões políticas em meados dos anos 1990.
30 de outubro de 2013
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Acordo celebrado na Casa Branca: Bill Clinton observa aperto de mãos entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat. Foto: Ron Edmunds, 10/09/1993/AP.

Os chamados “acordos de paz de Oslo” referem-se a um conjunto de acordos firmados na cidade de Oslo, Noruega, em 1993, entre o governo israelense, representado pela figura de Yitzhak Rabin, e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), representada pela figura de seu presidente, Yasser Arafat. Tais acordos contaram com a mediação do então presidente dos Estados Unidos, o democrata Bill Clinton. Na época, Rabin, primeiro-ministro de Israel, disse: “Nós que lutamos contra vocês, palestinos, lhe dizemos hoje com voz clara a forte: basta de sangue e de lágrimas. Basta”.

Uma foto, em especial, marcou as negociações de Oslo: a foto de um aperto de mãos entre Rabin e Arafat, com Clinton no centro. Curiosamente, o registro não foi feito em Oslo, mas em uma reunião no jardim da Casa Branca, em Washington, em 13 de setembro de 1993. Com aquele aperto de mãos, Israel passou a reconhecer a OLP como representante dos palestinos e esta, por sua vez, reconheceu o direito de existência de Israel. A violência como método de negociação da paz entre os dois Estados foi condenada.

Em 1994, como consequência dos acordos firmados em Oslo, Yitzhak Rabin recebeu o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Shimon Peres e Yasser Arafat. Rabin, no entanto, não teve muito tempo para seguir nas tratativas de paz. Em quatro de novembro de 1995, quando participava de um comício pela paz na antiga Praça dos Reis (atual Praça Yitzhak Rabin), em Telavive, foi assassinado por Yigal Amir, um estudante judeu ortodoxo, militante de extrema-direita que se opunha às negociações com os palestinos.

Comentando os “acordos de Oslo”, Peter Calvocoressi, em “Política Mundial” (Ed. Penso, p.371), explica:

“Com base nisso, o plano de Oslo se estendia por seis anos (1993-1999), em três etapas: primeira, uma retirada israelense da Faixa de Gaza e de sete cidades da Cisjordânia, e a transferência de poderes à OLP; segunda, transferência de aldeias intermediárias na Cisjordânia, eleições dentro de três meses, livre movimentação entre os territórios transferidos e, finalmente, discussões sobre o futuro dos 140 assentamentos judeus nos territórios e em Jerusalém. Apesar de muita imprecisão, a implementação da primeira etapa aconteceu, mas as seguintes foram prejudicadas por disputas devido à falta de confiança entre os dois lados, pela hostilidade do Hamas tentando desacreditar Arafat e destruir a OLP, pela falta de disposição de Rabin para avançar mais rápido do que se sentida forçado e pelo acelerado confisco de terras por parte de Israel nos territórios ocupados para mais assentamentos.”

Em 2013, os “acordos de paz de Oslo” comemoram 20 anos. Embora os acordos tenham sido entusiasticamente – e até mesmo exageradamente – celebrados pela imprensa e por parte da opinião pública internacional, o conflito árabe-israelense continua sendo uma das questões mais urgentes a serem resolvidas no atual cenário global. Abaixo, as capas que os jornais brasileiros O Globo e Folha de S. Paulo deram para o aperto de mãos entre Rabin e Arafat em 13 de setembro de 1993, nos jardins da Casa Branca:

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Evento foi noticiado em grande destaque nas capas dos jornais brasileiros. Foto: O Globo e Folha de S.Paulo.

Como citar este artigo

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Acordos de Paz de Oslo: 20 anos depois (Artigo). In: Café História. Disponível em https://www.cafehistoria.com.br/acordos-de-paz-de-oslo-20-anos-depois/. Publicado em: 30 out. 2013. ISSN: 2674-5917.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

10 Comments Deixe um comentário

  1. Olá, Bruno. Sou Nélson Bittencourt, professor de Língua Portuguesa e Inglesa, Pós-Graduando em Direito Internacional. Quero parabenizar pelo brilhante texto e pela seriedade e atualidade das informações nele contidas.

  2. Texto elucidativo sobre acordos que nunca foram implementados na íntegra, como afirmado por Calvocoressi. Resta saber se ainda é possível implementá-los, quando Israel já aprovou a legalização de todos os assentamentos, o Hamas e a Fatah seguem desunidos e prosseguem os lançamentos de foguetes de Gaza em território israelense. A questão dos refugiados nos países vizinhos, em particular Jordânia e Líbano é outra questão séria. Seria a solução de um estado para as duas nacionalidades viável? Israel teria de abolir a lei declarando-se um estado judeu, recentemente aprovada na knesset.

    • Olá professor, acredito que seja improvável um estado binacional, penso porém que os dois lados devem fazer concessões( especialmente Israel), deixar o radicalismo de lado e enfim quem sabe encontrar a paz tão necessária para os 2 povos, criando assim o estado Palestino ao lado do estado de Israel

        • Possível é, mas não podemos esquecer alguns pontos:
          1- As colônias israelenses se encontram nos pontos em que há poços artesianos, e as cidades palestinas próximas ficam privadas do elemento essencial à vida
          2- O muro separando as áreas fronteiriças israelenses com as regiões palestinas já está construído, de modo a dificultar o contato entre as cidades palestinas
          3- As estradas de ligação entre as cidades palestinas ficam sob rígido controle israelense, a fim de impedir o acesso dos palestinos às áreas em que existam colônias israelenses
          4- Um estado palestino em Gaza e Cisjordânia terá sérias dificuldades financeiras, pois os reservatórios de água como assinalei no item 1 ficam TODOS em áreas sob controle israelense, inviabilizando uma agricultura produtiva
          5- Com a morte do líder Yasser A’rafat, tanto a Fatah (dominante em Cisjordânia) quanto o Hamas (prevalecendo em Gaza) são máquinas administrativas corruptas e inflacionadas (cerca de 40% dos palestinos vivem de postos absolutamente ociosos junto à Autoridade Palestina, e dados apenas aos que apoiam ou a Fatah ou o Hamas [e quem fala isto não sou eu, mas dados do jornal Al-Quds, o único de língua árabe em Israel)
          6- Com a lei declarando Israel um estado judeu, a situação dos árabes-israelenses se tornou ambígua o que dificulta ainda mais qualquer negociação com os palestinos, posto que estes encaram os árabes-israelenses como traidores, e os israelenses os encaram como cidadãos de segunda classe (falo com real conhecimento: meus primos em 4º grau são árabes-israelenses)
          Não digo que um estado binacional seja a saída, mas honestamente, a solução de 2 Estados para 2 povos na atual conjuntura é inviável.

          • Olá, concordo com todos os pontos feitos pelo senhor, de fato é uma situação muito complicada nos dias de hoje. Diria que nenhuma das soluções parece possível atualmente, porém acredito na paz feita de forma pragmática. Penso que com pequenas concessões ao longo de vários anos o clima pode melhorar e aí sim será possível pensar em alguma solução qualquer que seja. Falamos disso no momento em que Bibi ameaça a anexação de parte da Cisjordânia, que caso aconteça( pessoalmente acredito ser mais discurso político do que qualquer outra coisa) e os cidadãos palestinos que vivem nos territórios anexados não recebam cidadania israelense, isto configuraria o Estado de Israel oficialmente em estado de apartheid. Hoje a paz parece distante e uma solução mais longe ainda, mas gosto analisar quantos séculos a Europa demorou para alcançar a relativa paz que tem hoje, assim quem sabe o conflito não se resolva até mais rapidamente do que o de vários países europeus. Enfim, é isto que penso.

  3. Tem razão: a Europa levou séculos para alcançar uma relativa paz. Mas Israel e Cisjordânia/Gaza estão há 27 anos com um acordo de paz sem implementá-lo. Não houve concessões de qualquer dos lados. O professor Ariel Ben Goldberg, da Universidade de Haifa, assinala em um artigo escrito ao Yehodiot Ahranot, que há 3 soluções possíveis:
    1- Anexação de todos os territórios palestinos, conhecidos pelos israelenses como parte de Israel histórico, e expulsão de todos os palestinos que não jurarem fidelidade ao estado de Israel. Injusto e inviável, a meu ver
    2- Desmantelamento de todas as colônias israelenses e concessão de status de país a todas as áreas liberadas. Injusto e inviável: onde alocar os 700 mil colonos?
    3- Anexar Cisjordânia e Gaza e estender a nacionalidade israelense a todos os palestinos. Inviável, embora utopicamente belo. Israel passaria a contar com 5 MILHÕES de palestinos, que desde 1.947 odeiam o estado israelense, e que já se declarou oficialmente como um “estado judeu” em 2.019. Como um estado judeu pode ser binacional?
    Um de meus primos israelenses assinalou uma 4ª opção, mas no atual desenvolvimento da ciência seria inviável também: mandar todos os israelenses e palestinos que não aceitarem fazer concessões para Marte ou talvez Saturno. E olhe que o cunhado dele foi secretário de cultura de Haifa.
    É nestas horas que agradeço que a minha família paterna veio ao Brasil.

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