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Abdias Nascimento: “precisamos desvincular a imagem do afrodescendente da condição escrava”

Abdias Nascimento: “precisamos desvincular a imagem do afrodescendente da condição escrava” 3

Abdias do Nascimento, Ex-Senador da República, na Subcomissão da Igualdade Racial, no Plenário do Senado. A audiência pública tinha a finalidade de discutir formas de eliminação do preconceito racial e discriminação, com a participação de políticos, artistas, esportistas e ativistas do movimento negro, o jogador Edinaldo Batista Libanio (Grafite) receberá Moção de Solidariedade e Apoio. Foto: Célio Azevedo Sexta-feira, 13 de maio de 2005.

Em 2009, Abdias Nascimento (1914-2011), uma das vozes mais proeminentes na luta contra o racismo no Brasil, conversou com a Revista Acervo do Arquivo Nacional. Na entrevista, o ativista recordou suas origens em Franca (SP), onde cresceu cercado por histórias de sobrevivência de ex-escravizados e enfrentou as primeiras manifestações do racismo estrutural que marcaram sua vida.

“Nas fazendas que visitávamos, praticamente todos os negros que existiam, homens e mulheres, eram crias, filhos, netos e ex-escravos que trabalhavam em serviços domésticos. Haviam assimilado a cultura do branco. É provável que não tivessem interesse pelas suas origens, pela cultura africana. Não se chamavam eles como escravos, mas a estrutura do regime escravocrata ficava mantida ali, como se fosse imutável”, disse Abdias.

O fundador do Teatro Experimental do Negro (TEN) também destacou o impacto cultural e político da entidade, que, desde os anos 1940, abriu espaço para artistas negros e promoveu debates sobre desigualdade racial. O TEN foi fundamental para iniciativas como o Congresso do Negro Brasileiro e a inclusão de demandas antirracistas na Constituinte de 1946.

Abdias em protesto contra racismo, em 1956, no Rio de Janeiro. Foto: Acervo Correio da Manhã, Arquivo Nacional. BR RJANRIO PH.0.FOT.35917 – Dossiê.

Para Abdias, o avanço das políticas públicas em prol da igualdade racial, de leis no ensino e de outras legislações antirracistas é fundamental para a democracia brasileira. Contudo, ele alertou sobre a dificuldade de efetivar essas conquistas, criticando a persistência de estigmas que associam a população negra exclusivamente à escravidão. “No Brasil, as palavras “escravo” e “negro” ainda são sinônimos, o que revela o quanto essa ligação penetra fundo na consciência coletiva nacional”.

“Abdias Nascimento foi um dos maiores expoentes do pensamento negro brasileiro, articulando ideias e ações que continuam fundamentais para combater o racismo sistêmico e valorizar a cultura afro-brasileira. Suas contribuições, como o conceito de quilombismo e a defesa da arte como ferramenta de resistência, permanecem atuais ao inspirar o enfrentamento das desigualdades raciais. Revisitar sua obra é um ato de memória e compromisso com a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária”, disse ao Café História o historiador Abner Francisco Sótenos, professor no Departamento de Estudos Africanos da San Diego State University (SDSU) e doutorando em História da América Latina na University of California, San Diego (UCSD).

Exposição em São Paulo

Desde o dia 28 de novembro, está em cartaz no Sesc Franca, em São Paulo, a exposição “Abdias Nascimento – O Quilombismo: Documentos de uma Militância Pan-Africanista”, que traz 70 pinturas. Realizada em parceria inédita entre o Sesc (São Paulo), o Instituto Inhotim (Minas Gerais) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, Ipeafro (Rio de Janeiro), a exposição é uma itinerância que partiu do Inhotim, onde integrou um programa sobre Abdias entre 2021 e 2024.

Abdias, que foi o primeiro senador autodeclarado negro do Brasil, de 1991 a 1992 e, novamente, de 1997 a 1999, também é tema de um filme lançado este mês pelo Senado, parte da exposição imersiva “O sonho de Abdias”. O filme passará a fazer parte da visita guiada no Senado Federal.

O livro do historiador Bruno Leal, professor da Universidade de Brasília, é destaque na categoria “historiografia” e “ensino e estudo”da Amazon Brasil. Livro disponível para leitura no computador, no celular, no tablet ou Kindle. Mais de 60 avaliações positivas de leitores.

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