A “Batalha de Seattle”: um marco do movimento antiglobalização

Em novembro de 1999, a realização da terceira conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) provocou um violento confronto nas ruas de Seattle, nos Estados Unidos.
10 de dezembro de 2019
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Na terça-feira, 30 de novembro de 1999, um enorme preservativo verde inflável com o trocadilho safe trade (“comércio seguro”) flutuava livremente pelas ruas do centro de Seattle, no estado de Washington. O inusitado objeto divertia uma multidão que se reunira naquele dia na cidade norte-americana para protestar contra a Terceira Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). O tom espirituoso que caracterizou as primeiras horas do protesto, no entanto, não durou muito. O dia terminaria com um enfrentamento violento envolvendo policiais e manifestantes.

Gás lacrimogênio é lançado por policial da tropa de choque contra um grupo de manifestantes antiglobalização durante os confrontos em Seattle. Foto: Steve Kaiser.
Gás lacrimogênio é lançado por policial da tropa de choque contra um grupo de manifestantes durante os confrontos em Seattle. Foto: Steve Kaiser.

Neste artigo, explicarei o que foi a “Batalha de Seattle”. Tendo recém-completado 20 anos, o evento é considerado um marco do movimento antiglobalização.

Globalização e antiglobalização

O termo “globalização” é um fenômeno histórico de longa duração. Ele remonta ao período das grandes navegações, nos séculos XV e XVI, e aprofunda-se em outros momentos-chave do sistema capitalista, como a Revolução Industrial e Divisão Internacional do Trabalho. Contudo, foi somente no início dos anos 1990 que este processo se tornou mais evidente, impulsionado pelo fim do mundo bipolar, pelo surgimento de novas tecnologias, como a internet, e pela interconexão da economia em escala planetária.

Nesta nova etapa do processo de globalização, bilhões de pessoas ao redor do mundo passaram a perceber que suas vidas não eram afetadas mais apenas pelos Estados Nacionais, mas também por outros agentes históricos igualmente fortes, tais como blocos econômicos (União Europeia, NAFTA, Mercosul, etc.), organismos de “governança global” (FMI, OMC, Banco Mundial, G8, etc.) e, principalmente, empresas transnacionais, que ao monopolizarem amplos setores do comércio internacional, tendem a homogeneizar hábitos de consumo, desde marcas de roupas até comidas congeladas, utilizando para tal produção trabalhadores espalhados pelos mais distantes pontos do planeta.

A grande novidade é que esses novos players do cenário global contemporâneo possuem estruturas altamente descentralizadas, não pertencem exclusivamente a nenhuma nação e os indivíduos que fazem parte de seu board jamais foram eleitos por aqueles que são direta ou indiretamente afetados por suas decisões. Esses novos players são, via regra, orientados pela lógica política e econômica do “livre mercado” e são tão fortes que chegam a disputar o poder com os Estados.

O grau de interferência dessas instituições no destino de tantas almas, sobretudo em momentos de acentuada crise econômica, não passou incólume no meio social. Essa nova etapa do processo de globalização tem sido acompanhada por incontáveis movimentos antiglobalização, diferentes entre si, mas que compartilham o descontentamento diante da “nova ordem mundial” do pós-Guerra Fria. Esses movimentos não surgiram em Seattle, em 1999,[1] mas foi nesta cidade e ano que eles ganharam força e notoriedade.

A “Batalha de Seattle”

Depois de realizar encontros em Singapura, entre 9 e 13 de dezembro de 1996, e em Gênova, entre 18 e 20 de maio de 1998, a cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC), um dos símbolos desta “nova ordem mundial”, marcou a sua terceira reunião ministerial para o período de 30 de novembro a 3 de dezembro de 1999, em Seattle, nos Estados Unidos, sendo logo apelidada por parte da imprensa internacional de “rodada de milênio”, já que seria a última a ser realizada naquele milênio.

Além de questões diplomáticas, o encontro tinha como meta também alinhar questões técnicas que visavam consolidar o paradigma do “livre mercado”. Pensando nisso, seriam debatidos em Seattle novas rodadas de negociações comerciais. a redução de impostos de importação e a redefinição do conceito de dumping, além de discussões ambientais e trabalhistas que poderiam “atravancar” o desenvolvimento desse tipo de comércio. Em suma, era a agenda neoliberal que guiava (e ainda guia) os processos decisórios da organização. Em linhas gerais, o que a OMC mais queria naquele momento era a derrubar de protecionismos alfandegários, deixando o mercado livre de qualquer tipo de “amarra”. Os Estados, na visão da OMC, deveriam interferir o mínimo possível em questões comerciais.

No total, eram esperados na cidade representantes de 134 países. A ansiedade era grande entre diplomatas, economistas e representantes comerciais. Mas não só entre eles. Dezenas de organizações não-governamentais, sindicatos, associações e movimentos sociais vinham planejando há meses um protesto contra a reunião da entidade na cidade norte-americana. Esses diferentes agentes sociais entendiam que o movimento de globalização neoliberal, capitaneado pela OMC, embora não limitado a ela, gerava um enorme prejuízo para as economias locais, precarizava o trabalho, gerava desemprego, não levava em consideração a voz das pessoas e passava por cima de medidas protetivas do meio ambiente – tudo em nome de um comércio sem barreiras.  

No dia 29 de novembro de 1999, uma segunda-feira, véspera do primeiro dia da reunião, Seattle já tinha sido enfeitada por diferentes movimentos antiglobalização. Cartazes e faixas contra o encontro haviam sido afixados em postes, monumentos históricos e muros da cidade. Na região do porto, manifestantes realizaram protestos contra produtos que eram considerados símbolos de práticas comerciais desleais, como o aço chinês, a carne bovina tratada com hormônios e camarões capturados por empresas que utilizavam redes que ameaçavam espécies marinhas, como as tartarugas. Centenas de pessoas já transitavam nas ruas em zonas que eram frequentadas por participantes da reunião.[2]

No dia 30 de novembro, primeiro dia de programação da OMC, o número de ativistas já se contava na casa dos milhares. Ocupavam ruas e cruzamentos que levavam ao centro da cidade, onde a reunião aconteceria. Naquele dia, ocorreria a abertura da conferência, no Teatro Paramount, o mais famoso de Seattle. O principal objetivo dos manifestantes era impedir que essa conferência acontecesse.

Black Blocs enfrentam a tropa de choque nas ruas de Seattle em 1999. Foto: Jnarrin
Black Blocs enfrentam a tropa de choque nas ruas de Seattle em 1999. Foto: Jnarrin

As muitas vozes presentes nas ruas podiam ser vistas nos cartazes e faixas que as pessoas exibiam livremente. Um dos dizeres mais comuns nesses materiais era: “Não à globalização sem representação”. Mas eles eram muito mais diversos: “Injustiça Global”; “Defendam nossas florestas”; “Não comercialize o nosso futuro”; ‘Eu gostaria que a economia global trabalhasse para as famílias trabalhadoras”; “Salvem as famílias de agricultores”; “Pessoas e natureza antes do luro”; “Comércio justo”; “Muitos rostos, uma só voz”; “Trabalhadores dizem: a OMC acaba com a democracia”; “Diga não à globalização sem representação” “Nós queremos ter voz ativa”, entre outros.

Manifestantes e estratégias variadas

Havia uma enorme diversidade de ativistas. A maior parte dos presentes vivia nos Estados Unidos, mas muitos vinham do exterior: do México, do Canadá, de Cuba e até mesmo da Europa e da América do Sul. Entre as ocupações dessas pessoas também havia diversidade: eram ambientalistas, estudantes, sindicalistas, religiosos, ativistas dos direitos humanos, comerciantes locais, pessoas comuns que viviam situação de miséria ou desemprego. Até mesmo taxistas entraram em greve naqueles dias. Os sindicatos que participavam do ato estavam convencidos de que a integração econômica neoliberal estava correndo o salário e o poder de compra dos trabalhadores, além de minar as políticas sociais que os ajudavam em momentos de dificuldade.

Haviam, portanto, diferentes pautas e reinvindicações entre as multidões que estavam nas ruas. Não negavam a globalização, mas queriam uma outra globalização, que levasse em conta a sua voz, os seus problemas e as suas preocupações.

Para se destacarem no mar de gente, os grupos tinham estratégias distintas. Alguns ativistas amarraram-se uns aos outros formando uma grande corrente humana, quase impossível de ser desfeita, mesmo à força. A Federação Americana do Trabalho e Congresso das Organizações Industriais, a AFL-CIO, promoveu uma grande marcha com mais de mil funcionários da Boeing, que tem sede em Seattle. Os marítimos fizeram greve, seguindo o exemplo dos taxistas. Padres e pastores saíram às ruas de mãos dadas com os fiéis. Outros grupos, como a ONG Human Society, se fantasiaram de tartarugas, manifestando-se contra a pesca predatória das grandes corporações multinacionais.

Calcula-se que cerca de 50 mil pessoas estivessem nas ruas – nunca um movimento antiglobalização havia atraído tanta gente. Chegaram à cidade por meio de ônibus, carros e até mesmo de avião. Mesmo para uma cidade acostumada a ver grandes protestos urbanos, como Seattle, o que estava acontecendo era inédito na história.

Queixas e reclamações

Um dos grupos que liderava os protestos, o Turn Point, explicou sua objeção em relação a OMC: “A ideia central da OMC diz que o livre comércio – na verdade, os valores e os interesses das corporações globais – deve se sobrepor a todos os outros valores. Quaisquer obstáculos ao comércio global são encarados como suspeitos. Na prática, esses ‘obstáculos’ são as leis dos Estados nacionais que protegem o meio ambiente, os pequenos negócios, os direitos humanos, os consumidores e os trabalhadores, assim como a soberania nacional e a democracia. A OMC vê esses elementos como possíveis impedimentos para o ‘livre comércio’, o que os torna passíveis de objeções dentro das salas de negociação…obrigando os países a adotar regras da OMC para não enfrentar sanções severas”.[3]

De acordo com o pesquisador Jeffry A. Frieden, boa parte dos problemas estava no tipo de integração econômica, que passava por competição desleal, fins de direitos trabalhistas e outros problemas sociais. Segundo Frieden, “assim como a integração permitiu às empresas escolher os países com os salários mais baixos, também lhes deu a chance de optar pelas nações com regulamentações mais favoráveis e impostos menores. Isso poderia criar situações perigosas em relação às políticas e regulamentações sociais, provocando a fuga dos empreendimentos da América do Norte e da Europa ocidental, caracterizados por impostos elevados, políticas sociais generosas, controles rigorosos sobre a poluição ambiental, a saúde, a segurança e os direitos dos trabalhadores”.[4] 

Radicalização dos protestos

À medida que o dia avançava, novos grupos se juntavam àqueles que já estavam nas ruas do centro de Seattle, entre eles, os chamados os black blocs, identificados, em parte, com a doutrina anarquista. Sua forma de protesto era diferente: mais violentos, queimavam latas de lixo, quebravam vidraças de lojas multinacionais, bancos, quiosques de venda de jornal, semáforos de trânsito e desafiavam os policiais. Vestiam-se de preto a agiam em grupos. As autoridades de Seattle, embora soubessem há meses da movimentação de diferentes grupos antiglobalização, não haviam se preparado corretamente. Os policiais simplesmente não sabiam o que fazer. O número de manifestantes era cinco vezes maior do que o esperado por eles e empregavam técnicas pouco convencionais de protesto. Com eventos simultâneos ocorrendo pela cidade, a polícia perdeu rapidamente o controle da situação. Foi em meio a essa falta de preparo e planejamento que os policiais começaram, bastante indiscriminadamente, a agir com extrema violência, não só contra os black blocs, mas contra todos os manifestantes.

Seattle se tornou uma grande praça de guerra. Houve uso ostensivo de armas brancas, principalmente gás de pimenta, bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogênio. Bombas explodiam a cada quarteirão do centro da cidade. O chão de Seattle ficou marcado com uma mistura de sangue, cacos de vidro e lixo.

O número de policiais à noite aumentou tremendamente, contando com o apoio da cavalaria e da tropa de choque, que se destacava pelos equipamentos: de ombreiras emborrachadas a máscaras anti-gás, todos de preto, muito parecidos com robôs.

Centenas de manifestantes foram presos e encaminhados à delegacia em ônibus lotados da polícia. Mesmo assim, o descontrole continuou. O prefeito de Seattle teve que convocar a guarda nacional e decretar toque de recolher. A mídia transmitiu tudo ao vivo.

Apesar da violência, algumas vitórias

As cenas de violência foram repetidas, embora com menos intensidade, nos dois dias seguintes. Mas apesar das prisões arbitrárias e da violência desproporcional e indiscriminada, os manifestantes conseguiram importantes vitórias. Não só a cerimônia de abertura do evento foi cancelada por causa dos protestos, pela primeira vez na história, como a própria rodada de negociações foi absolutamente fracassada. As delegações presentes em Seattle não conseguiram chegar em peso ao Paramount. E aqueles que chegaram, tinham agora um outro tipo de pressão, oriunda dos movimentos sociais.

A mídia, além disso, cobriu muito mais os distúrbios nas ruas do que a conferência em si. Pela primeira vez as pessoas ouviam falar de OMC, FMI, G7 e Banco Mundial, entidades que até então lhes eram desconhecidas. E houve ainda outra vitória que não pode ser desprezada. Os manifestantes que haviam sido detidos pela polícia foram liberados e sem que eles fossem criminalmente fichados. Desde 1994, a administração Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, vinha colocando em prática a chamada “three strikes law”. A expressão é emprestada do Baseball, que tem uma regra básica: um rebatedor tem três tentativas para rebater a bola; se não conseguir, é eliminado do jogo. No caso da lei de Clinton, ela punia o criminoso com três passagens pela polícia, deixando-o, literalmente, fora do convívio social por um longo tempo. Isso atingia principalmente a população negra e pobre do país, que também participava em peso do ato em Seattle.

Batalha de Seattle: 20 anos depois

Depois da “rodada do milênio”, os encontros de cúpula da OMC passaram a operar com a ideia de “zonas de exclusão”. Os locais onde os encontros ocorreriam as reuniões passaram a ser isolados. Uma margem de três quilômetros foi estabelecida como protocolo, mas isso serviu apenas para restringir ainda mais o “direito à discórdia” das pessoas.

Dois anos depois de Seattle, em 2001, o movimento antiglobalização teve a sua primeira baixa fatal. Ela ocorreu durante uma reunião de cúpula do G8, na Itália. O Jornal do Brasil, na sua edição de sábado, 21 de julho de 2001, noticiou assim o episódio:

Grupos ambientalistas protestam em Seattle. Foto: reprodução da internet.
Grupos ambientalistas protestam em Seattle. Foto: reprodução da internet.

“Carlo, um rapaz italiano de 23 anos, tombou com um tiro na cabeça nas imediações do Palácio Ducal, em Gênova, onde os poderosos deste mundo debatiam os interesses do capitalismo globalizado na reunião de cúpula do G8, que reúne os líderes dos sete países mais ricos do mundo. Magro, cabeça raspada sob a máscara e calça jeans, o corpo ensanguentado de Carlo foi atropelado por um jipe da polícia enquanto bombas estouravam e, entre nuvens de fumaça de gás lacrimogêneo, entre vagas de verdade e de loucura, manifestantes enfurecidos enfrentavam com pedradas e cassetetes improvisados as forças da ordem globalizada. Sem documento, o jovem permaneceu anônimo por várias horas, como ícone da geração sem líderes e sem causa definida que cresceu à sombra dos escombros do Muro de Berlim”.

A morte de Carlo ressoou no mundo inteiro. Artistas, intelectuais, jornalistas e pesquisadores passaram a discutir mais aberta e profundamente a questão da globalização e os seus descontentes. A opinião pública internacional estava alarmada com a escalada de violência. Não era uma cena comum nas ruas europeias. Com tamanha pressão, as principais entidades da “governança global” foram forçadas a fazer recuos, atendendo a reinvindicação de parte dos manifestantes, principalmente aqueles que viviam em áreas ricas do planeta, caso dos Estados Unidos. Com isso, o movimento antiglobalização foi se tornando mais rarefeito, embora nunca tenha cessado completamente.

O pesquisador Bruno Bringel e a pesquisadora Enara Echart Muñoz, especialistas nos estudos da globalização, sublinham que os movimentos antiglobalização foram importantes no final da década de 1990 e início da década de 2000, principalmente ao chamar a atenção da população para a arbitrariedade e autoritarismo de entidades como a OMC, mas que arrefeceram nos últimos anos, vivendo hoje uma “crise”.[5]

Por outro lado, devemos sublinhar que os movimentos sociais contemporâneos aprenderam muito com o que aconteceu em Seattle e com outros movimentos antiglobalização: aprenderam suas técnicas, organizações, estratégias, etc. O que aconteceu no Egito, em 2011, ou nos Estados Unidos, em 2014, mostram muito bem isso. O uso da tecnologia é algo, por exemplo, que perpassa a todos esses movimentos de contestação. As redes sociais são utilizadas para se proteger e denunciar os excessos das forças policiais e para arregimentar as massas.  

Nos últimos anos, alguns autores vêm estudando especificamente as formas de organização dos movimentos antiglobalização e seus semelhantes. É o caso de Manuel Castells, que destaca a questão da internet e dos meios de comunicação neste processo. Em “A Galáxia Internet”, Castells explica que em Seattle, os ativistas da Direct Action Network, forneceram o treinamento e as habilidades organizacionais para muitos dos manifestantes. Mas o movimento foi baseado na troca de informação, em meses de acalorado debate político na internet, que precederam as decisões individuais e coletivas de ir a Seattle e tentar bloquear o encontro do que era percebido como uma organização que impunha, como nós vimos, a “globalização sem representação”.

Castells pondera ainda que movimentos sociais espontâneos informais não são novos. O que diferencia os movimentos antiglobalização inaugurados em Seattle é outra coisa:

“A novidade é a sua interconexão via internet, porque ela permite ao movimento ser diverso e coordenado ao mesmo tempo, engajar-se num debate permanente sem, contudo, ser paralisado por ele, já que cada um de seus nós pode reconfigurar uma rede de suas afinidades e objetivos, com superposições parciais e conexões múltiplas. O movimento antiglobalização não é simplesmente uma rede, é uma rede eletrônica, é um movimento baseado na internet. E como a internet é seu lar, não pode ser desarticulado e aprisionado. Nada como um peixe na rede”.[6] 

Essa marca, sublinha o autor, não deixa de ser uma ironia: os movimentos supostamente antiglobalização são globais, lançam mão de estratégias internacionais, coordenada via internet e por meio de outros recursos tecnológicos criados e difundidos pela própria globalização. Desta forma, fica claro como o movimento é, em última instância, uma grande marca da própria globalização, longe de ser uma exata rejeição desta.

Atualmente, depois de seguidas crises econômicas, à luz da ideia de austeridade, pregada às custas da estabilidade do emprego e das leis ambientais, mediante a enorme precariedade propagada por um discurso neoliberal ainda mais radical, representado pelas empresas de aplicativos que tem total controle de seus “funcionários”, mas nenhuma responsabilidade quanto a eles, olhar para a experiência de Seattle e para os movimentos antiglobalização possa ser uma forma de pensar criticamente o nosso próprio tempo e as perigosas permanências que continuam a nos desafiar todos os dias.

Gostou do tema? Quer saber mais? Clique aqui para conferir diversos documentos sobre o protesto de 1999 disponibilizados pelo Arquivo Municipal de Seattle.

Bruno Leal Pastor de Carvalho é fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social (UFRJ, 2015). Mestre em Memória Social (UNIRIO, 2009), Especialista em História Contemporânea (PUCRS, 2010), Graduado em História (UERJ, 2006) e Comunicação Social (UFRJ, 2006). Foi professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra, com especial ênfase no destino dos criminosos nazistas. Foi cocoordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes da UFRJ, o NIEJ entre 2011 e 2018. É membro da Rede Brasileira de História Pública e da Associação das Humanidades Digitais.

Notas

[1] O pesquisador Thomas Brister, por exemplo, destaca os protestos que fazendeiros indianos promoveram, em 1996, contra uma loja da rede Kentucky Fried Chicken (KFC) na cidade de Bangalore. Mais ou menos nesta mesma época, o Movimento Zapatista, no México, também levantou a bandeira antiglobalização ao insurgir-se contra o NAFTA (acordo de livre comércio, Estados Unidos e Canadá), cujos acordos econômicos, segundo acreditavam seus adeptos, colocavam em risco a soberania mexicana.

[2] FRIEDEN, Jeffry A. Capitalismo global: história econômica e política do século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. pp.483-484.

[3] FRIEDEN, op.cit, p.485.

[4] FRIEDEN, op.cit, p.492.

[5] Ver: BRINGEL, Breno; MUÑOZ, Enara Echart. Dez anos de Seattle, o movimento antiglobalização e a ação coletiva transnacional. Ciências Sociais Unisinos, v. 46, n. 1, p. 28-36, 2010.

[6] CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: reflexões sobre a Internet, negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. P.118.

Referências Bibliográficas

BRINGEL, Breno; MUÑOZ, Enara Echart. Dez anos de Seattle, o movimento antiglobalização e a ação coletiva transnacional. Ciências Sociais Unisinos, v. 46, n. 1, p. 28-36, 2010.

BRISTER, Thomas. ‘Swadeshis in competition’: Enron and India’s anti-globalization movement. Contemporary Politics, v. 13, n. 4, p. 313-329, 2007.

CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: reflexões sobre a Internet, negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

FRIEDEN, Jeffry A. Capitalismo global: história econômica e política do século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2009.

Como citar este artigo

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. A “Batalha de Seattle”: um marco do movimento antiglobalização (Artigo). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/a-batalha-de-seattle-antiglobalizacao/. Publicado em: 9 dez. 2019.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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