Michel Gherman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi o convidado do novo episódio do História FM, parceiro do Café História.
Agência Café História
Segunda-feira, dia 27 de janeiro, comemoraram-se os 75 anos da libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho. Mais do que uma mera data comemorativa, o momento permitiu a reflexão sobre uma série de questões contemporâneas em diversos países, além de servir de pretexto para que velhas tensões entre países se reacendessem.
Ainda que o Holocausto tenha sido um evento geograficamente distante do Brasil, o contexto desse crime contra a humanidade não está tão distante de debates políticos contemporâneos em nosso país. Por conta disso, o podcast História FM convidou o professor Michel Gherman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para discutir o evento. Quais suas origens? Como ele funcionou? Sob que justificativas? Quem são os grupos que negam a existência desse evento e por que o fazem?
Os debates a respeito do tema ainda estão longe de se esgotar, mas Michel dá aos ouvintes bases para compreender a complexidade do tema.
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75 anos do fim de um pesadelo, que teve ramificações em outros campos (Treblinka, Mauthausen, Sobibor, Schirmeck, e outros) e atingiu as artes (a proibição da “Degeneriert Kunst” arte degenerada) as ciências (de recordar a Verbrennung dos “Verboten Bücher”) e todas as relações humanas (“Die Verheiraten zwischen Arianer und Nicht Arianer sind verboten”, casamentos entre arianos e não-arianos são proibidos; e não nos olvidemos de que delatores de ciganos, homossexuais e judeus eram recompensados com parte dos bens dos denunciados). O que me impressiona é o fato de que não se menciona que os homossexuais continuaram a cumprir pena após a libertação dos campos, e até hoje NENHUMA autoridade (governo, Cruz Vermelha, Igrejas) pediu desculpas aos ciganos e homossexuais pela tragédia com a qual alguns de seus membros fizeram vistas grossas.
Obrigado pelo comentário, professor. A perseguição aos homossexuais foi realmente silenciada por muito tempo. Nos últimos dez anos, contudo, começou a haver uma abertura. Livros de sobreviventes foram pela primeira vez publicados, memoriais foram construídos e autoridades começaram a pedir perguntas. Esses dois links são interessantes:
https://www.dw.com/pt-br/homossexuais-v%C3%ADtimas-do-nazismo-ganham-memorial-em-berlim/a-3362743
https://www.dw.com/pt-br/steinmeier-pede-perd%C3%A3o-por-persegui%C3%A7%C3%A3o-de-homossexuais/a-44059364
Abraço!
Acessarei ambos. Só a título de permanência de duas memórias com que me agraciaram:
1- Tive um colega de turma no primário (sim: naquela época ainda eram primário e ginasial), cuja mãe adotiva era cigana. Contou-me Dona Aránya – “noiva” em romanês – que foiu levada juntamente com a mãe a um campo de concentração. Era uma das Nachtarbeitfräulein – moças de trabalho noturno: durante o dia cosiam os uniformes dos nazistas. À noite, eram obrigadas a se prostituírem. Ao término da guerra, somente ela e um judia sobreviveram. Ela veio ao Brasil com ajuda de um oficial das FEB, de nome Michel Elias. Era meu primo em 3º grau! O nome de minha mãe é Wilma Elias Abbud.
2- Na entrada do que hoje é o hotel Leão da Montanha em Campos de Jordão morava um senhor. Era sobrevivente de Birkenau. Na I Guerra lutou do lado da Alemanha e foi condecorado por salvar os companheiros ao pegar uma granada e jogá-la de volta aos ingleses. Perdeu dois dedos da mão direita. Ao ser denunciado pelos primos, que ficaram com seus bens, como “im grün am Donnerstag sich kleidt” – vestir-se de verde às quintas-feiras. Um código entre os homossexuais para se reconhecerem – foi levado para Birkenau. Ao término da guerra, arrancou o rose Dreienkel – triângulo rosa, distintivo dos homossexuais – e trocou por uma gold Stern – estrela amarela – de um judeu morto. Com um pedido especial do ex-cônsul brasileiro em Hamburgo, veio ao Brasil. O ex-cônsul era nada mais nada menos do que Guimarães Rosa.