Centro de Estudos de Segurança e Cidadania ajuda a entender a questão da segurança pública

23 de fevereiro de 2018

Entidade acadêmica disponibiliza livros gratuitos sobre o tema e acaba de criar o “Observatório da Intervenção” para monitorar a situação no Rio.

Por Bruno Leal | Agência Café História

Coordenado pela socióloga Julita Lemgruber, pesquisadora de questões ligadas à criminalidade e ex-ouvidora da PM do Rio, o “Observatório da Intervenção” terá o papel de monitorar as ações da polícia e das forças armadas na cidade, especialmente nas comunidades, onde acumulam-se denúncias de violação dos Direitos Humanos.

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Rio de Janeiro – Forças Armadas fazem operação conjunta com as polícias Civil e Militar em comunidades na zona oeste da cidade. Os militares estão apoiando ações nas comunidades de Vila Kennedy, Vila Aliança e Coreia (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Lemgruber tem sido uma grande crítica da intervenção das forças armadas no campo da segurança pública. Para ela, “a volta das Forças Armadas é ‘inútil’ e serve apenas para ‘transmitir uma falsa sensação de segurança’.” Mesmo entre os militares, a ideia parece causar desconforto. Em junho passado, o General Villas Boas, Comandante do Exército, classificou esse tipo de estratégia como “desgastante, perigoso e inócuo”.

O CESeC

O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) tem oferecido nos últimos anos um farto material para quem deseja compreender melhor as questões relacionadas à segurança pública. No site da entidade, há muitos dados, pesquisas, artigos, vídeos, informações de projetos em andamento e livros. Tudo é gratuito.

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Gráfico gerado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).

O CESeC é uma das primeiras instituições acadêmicas integralmente dedicadas ao campo da segurança pública no Brasil. Foi fundado em 2000, na Universidade Candido Mendes (Ucam), Rio de Janeiro, por pesquisadores com experiência em gestão pública. Seu compromisso é desenvolver projetos que contribuam para o aperfeiçoamento do sistema de justiça criminal e que contribuam para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à redução da criminalidade sem dispensar o respeito aos direitos humanos.

A intervenção federal no Rio de Janeiro

No último dia 16 de fevereiro, o então presidente Michel Temer assinou um decreto de intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Com a medida, as Forças Armadas assumem a responsabilidade do comando das Polícias Civil e Militar em todo o estado. “Tomo esta medida extrema porque as circunstâncias assim exigem. O governo dará respostas duras, firmes e adotará todas as providências necessárias para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas”, disse Temer na ocasião.

O anúncio da intervenção federal causou grande mal-estar entre diversos pesquisadores acadêmicos, intelectuais, políticos, artistas e organizações que atuam na área de Direitos Humanos, especialmente depois do dia 20 de fevereiro, quando o comandante Villas Boas (o mesmo que em junho criticou o emprego das Forças Armadas em ações de segurança pública) afirmou que seria necessário dar aos militares “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade” no futuro. Para muitos especialistas no campo, além de ineficaz e motivada por fins políticos, a intervenção coloca ainda mais em risco milhões de pessoas que vivem nas comunidades do Rio de Janeiro.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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