“A Maravilhosa Sra. Maisel”: uma sátira judaica na Nova York do pós-guerra

Série disponível do Prime Video segue a personagem Mirian “Midge” Maisel, uma nova iorquina judia que logo após divorciar-se, abandona sua versão de dona de casa e ingressa na carreira de comediante.
12 de fevereiro de 2025
Cena de "A Maravilhosa Mrs. Maisel". Mulher de cerca de 30 anos sorri em um palco iluminado com luzes roxas e azuis.
"A Maravilhosa Mrs. Maisel" teve 5 temporadas. Foto: divulgação.

Criada por Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino em 2017, a série “A Maravilhosa Sra. Maisel” (The Marvelous Mrs. Maisel), disponível no Prime Vido, teve 5 temporadas e atingiu uma audiência expressiva, com 40,1 vezes mais impulso do que a média das séries mundiais, conforme a líder em índices de audiência a Plataforma Parrot Analytics, além de um fiel – destaque para o feminino – que foi até a sua última temporada.

A série gira em torno de Mirian “Midge” Maisel, interpretada por Rachel Brosnahan, uma nova-iorquina judia que logo após divorciar-se, abandona sua versão de dona de casa e ingressa na carreira de comediante – o que hoje é chamado de Stand up comedy – enfrentando altos e baixos, mas com um repertório afiado e que desafia não só a época, mas a própria condição feminina, especialmente de uma família judaica tradicional e conservadora do Upper West Side, bairro situado entre o Central Park e o Hudson River, lado oeste de Manhattan e onde atualmente vivem cerca de 41.000 famílias judaicas segundo a UJA-Federation of New York .

Situada na efervescente Nova York de 1950 e 1960, a série revela, ainda que sutilmente, as profundas mudanças arquitetônicas, mas também sociais, econômicas, políticas e culturais, sobre essas, especialmente o campo artístico, por onde transita a complexa personagem vivida por Brosnahan.

Os judeus e “A Maravilhosa Sra. Maisel”

Mas o que o judeu irá encontrar ao assistir aos capítulos que dão vida à série? Bem, para início de conversa, há uma certa polarização entre os judeus – (e não judeus também) quanto à representação do judaísmo na série. É isso que divide a opinião. “A Maravilhosa Sra. Maisel” reforça estereótipos que fortalecem o antissemitismo e que outrora foram usados para endossar perseguições ou seria uma ode às melhores tradições do humor judaico?

Bem, acredito que um pouco dos dois. Os pais da protagonista, vividos por Anthony Shalhoub (Abe Weissman) e Marin Hinkle (Rose Weissman), por exemplo, trazem a imagem de uma típica família judaica tradicional, conservadora do Upper West Side, na década de 1950: ele um matemático que trabalha na Universidade de Columbia e ela uma judia que ora se aproxima outra se distancia da mãe judia construída aos moldes shtetl.

Por outro lado, temos os Maisels, interpretados pelos atores Kevin Pollak e Caroline Aaron – judeus, diga-se de passagem – mais assimilados à cultura norte-americana e também, mais estereotipados: eles falam alto, esbravejam em público e são mais rudes. São estereótipos, porque, afinal, quem não se encaixaria nesse mesmo perfil na Manhattan deste período?

Os não judeus e “A Maravilhosa Sra. Maisel”

E o que um não judeu verá ao assistir à série? Bem, vencedora de 20 prêmios Emmys, três Globos de Ouro, entre muitos outros, como o Prêmio Norman Lear Achievement em Televisão do Producers Guild of America, a atuação dos personagens que habitam esses dois lares judaicos traz os conflitos e tensões sobre como a herança judaica se relaciona com a cultura norte-americana – discussão essa trazida inclusive pelo estudioso Henry Bial (2005) em Acting Jewish: Negotiating Ethnicity on the American Stage and Screen.

Mas mais do que isso, o espectador vai encontrar bom humor, que ajudou a amenizar o pesado fardo de passados difíceis e, agora, de um presente marcado por uma ameaçadora nostalgia nazifascista.

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“A Maravilhosa Sra. Maisel”: uma sátira judaica na Nova York do pós-guerra 1

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Helena Ragusa

Doutora em História, com ênfase em História Política pela Universidade Estadual de Maringá. Atualmente faz estágio doutoral no Programa de Pós-Graduação em História Pública da Universidade Estadual do Paraná – Campo Mourão. Bolsista CAPES.

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