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"Aumenta que é rock". Foto: Taylor Skaff / Unplash.

Hoje é dia de rock, bebê. Mas será que é mesmo?

O dia 13 de julho é reconhecido no Brasil como o Dia Mundial do Rock. Neste artigo, i historiador André Leme, da Universidade de Brasília, fala sobre este gênero que atravessa e empolga gerações.
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Afinal, o rock já conquistou o mundo, corrompeu a juventude, derrubou o muro, morreu, renasceu e se transformou tantas vezes desde seus primórdios. Se hoje, alguns estudiosos consideram o rock como a parte mais “autêntica” e “artística” da música pop, rock ‘n’ roll já foi o termo usado para denominar o rhythm ‘n’ blues negro embranquecido e voltado para adolescentes.

Rock ‘n’ roll é uma expressão bem antiga, que, inicialmente, se referia ao balanço dos navios no oceano e apareceu na cena musical no início do século XX como uma metáfora sexual, refletida na brasileiríssima tradução sessentista, “deitar e rolar”. Em 1942, o colunista da Billboard Maurie Orodenker, passou a usar o termo para descrever gravações “animadas”, como Rock Me, de Sister Rosetta Tharpe. Foi, porém, apenas na década de 1950 que o radialista Allan Freed, um dos primeiros a tocar e promover o rock nas rádios, popularizou a expressão em seus programas e shows.

Freed foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame em 1986, por seu papel em “promover a música rhythm and blues afro-americana nas rádios dos Estados Unidos e da Europa sob o nome de rock and roll”. Esse texto se encontra no site do Hollywood Walk of Fame, onde o DJ também foi homenageado, e ele toca em um ponto interessante.

Originalmente, o rock era negro. Afinal de contas, rhythm and blues, ou r&b, era uma espécie de blue-jazz rápido e dançante, tocado por artistas negros e comercializado para um público negro. Os brancos mudaram seu nome, chamando-o rock and roll, mas sem alterar o estilo. Allan Freed preferia tocar as gravações originais de artistas negros, mas diversas gravadoras viram o potencial comercial daquela música e contrataram artistas brancos para regravar as músicas negras. Assim, apesar de suas origens e de influentes e populares músicos como Chuck Berry e Little Richard, o rock acabou ficando famoso ao redor do mundo com Rock Around the Clock e Elvis Presley, ambos brancos.

Os anos 1960 ensaiaram uma volta às origens e a “invasão britânica” de artistas como os Beatles, os Rolling Stones, The Who e muitos outros, reverenciou, citou, regravou e promoveu os pioneiros negros. Muitos bluesmen e roqueiros negros foram tirados do ostracismo musical nessa época e levados de volta aos holofotes. Mas os novos artistas continuaram brancos. A música negra continuou com o soul e o funk, criou o hip-hop e o rap e até alcançou sucesso mundial com o pop dançante de Michael Jackson, mas o rock continuou sendo majoritariamente branco até hoje.

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Rock ‘n’ roll é uma expressão bem antiga, que, inicialmente, se referia ao balanço dos navios no oceano e apareceu na cena musical no início do século XX como uma metáfora sexual, refletida na brasileiríssima tradução sessentista, “deitar e rolar”. Foto: Pixabay.

Os anos 1960 e 1970 talvez tenham sido o ápice da popularidade do estilo. Depois, o rock foi cada vez mais desafiado por outras sonoridades, como a disco music, no início da década de 1980, e, de forma mais duradoura, pelo rap, pelo hip-hop e pela popularização da música eletrônica. O Dia Mundial do Rock faz referência a um dos maiores festivais de música da década de 1980, um dos últimos a contar com um elenco formado majoritariamente por artistas de rock, o Live Aid.

Trata-se de dois megaeventos organizados pelo cantor Bob Geldof, em Londres e nos Estados Unidos, em 13 de julho de 1985. Dois imensos festivais, reunindo a nata do rock e do pop em dois continentes, com a arrecadação destinada a combater a fome na Etiópia. Além dos principais artistas da época, bandas famosas que já tinham encerrado suas atividades, como o Led Zeppelin e o Black Sabbath, por exemplo, se reuniram para participar do evento e ajudar na nobre causa. Os shows foram televisionados para o mundo inteiro e Phil Collins, único artista a tocar nos dois palcos, emocionado, propôs celebrar a data como o Dia Mundial do Rock.

Só que ninguém levou a sério.

Quer dizer, quase ninguém. Duas rádios brasileiras que tinham o rock como carro-chefe de suas programações, a 89 FM e a 97 FM, ambas de São Paulo, resolveram lembrar a data a seus ouvintes anualmente. A ideia era surfar a onda roqueira do país (a segunda metade da década de 1980 é o período de ouro do chamado BRock) e atrair mais ouvintes. De uma certa forma, deu certo, pois a data “pegou” no Brasil e atualmente alguns veículos de imprensa e casas de show a comemoram.

Mas, como já falamos, depois da década de 1980, o rock perdeu espaço na mídia, as grandes estrelas do rock nacional saíram de cena e até mesmo as duas rádios que “criaram” o brasileiríssimo Dia Mundial do Rock, deixaram de tocar o estilo e renderam-se à popularidade da música pop e das batidas eletrônicas. A 89 até voltou atrás em 2012 e intitula-se novamente “A Rádio Rock”, mas hoje, certamente, o rock não será o gênero musical mais tocado. Nem no Brasil, nem no resto do mundo.

Como citar este artigo

LEME, André. Hoje é dia de rock, bebê. Mas será que é mesmo? (Artigo). In: Café História. Publicado em 13 jul. de 2024. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/hoje-e-dia-de-rock-bebe-mas-sera-que-e-mesmo/. ISSN: 2674-5917.

André Leme

Pai. Tricolor de coração. Gooner. Fã de música, literatura e jogos de estratégia. Professor de Teoria e Metodologia da História na Universidade de Brasília (UnB). Atualmente pesquisa a historiografia por trás dos videogames e jogos de tabuleiro e o rock e a teoria da história na Europa comunista. Já publicou sobre a antiguidade clássica e pós-clássica, o Iluminismo escocês, a literatura pós-moderna, teoria da história e a pesquisa histórica na internet.

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