África construiu relações intensas com povos asiáticos muito antes da chegada dos europeus, revelam pesquisas

Estudos revelam que África tinha centralidade nos circuitos globais de comércio, fluxos migratórios e de difusão de conhecimento.
12 de maio de 2021
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Congresso-Africa
África tem sido central nos estudos contemporâneos. Foto: Unplash / João Silas.

Se durante muito tempo os estudos sobre a África focaram na sua relação com a Europa, o crescimento recente do campo de estudos africanistas no Brasil veio acompanhado de uma mudança de perspectiva, mais global e comparativa. Contrariando a visão eurocêntrica, que traz a ideia de uma África atrasada e dependente, novas descobertas apontam para relações comerciais, sociais e religiosas construídas pelos próprios africanos com outros povos, especialmente os do subcontinente indiano, muito antes da chegada dos europeus no século XV. Essa visão, que destaca o protagonismo africano, é a base do livro “África, margens e oceanos: perspectivas de história social”, lançado em maio pela Editora da Unicamp.

Integrante da Coleção Várias Histórias, cujo propósito é divulgar pesquisas recentes a partir da perspectiva da história social, o livro foi organizado por Lucilene Reginaldo, doutora em história social e professora no Departamento de História da Unicamp, e Roquinaldo Ferreira, doutor pela Universidade da Califórnia e professor no Departamento de História da Universidade da Pensilvânia. Os 16 textos que compõem a obra apresentam a excelência e a diversidade da pesquisa atual sobre o passado africano.

Os trabalhos reunidos tratam da experiência histórica do continente africano às margens ou em conexão com os oceanos Atlântico e Índico entre os séculos XVII e XX. Como guias, duas intenções evidentes são compartilhadas entre os autores e autoras: o interesse em trocas, conexões e contatos que considerem o protagonismo dos africanos nos processos e relações estabelecidos por meio da ligação com os dois oceanos; e o diálogo entre a produção africanista brasileira e a internacional, feita em centros de pesquisa norte-americanos, europeus ou africanos. O objetivo comum é situar a África nos circuitos globais de comércio, fluxos migratórios, difusão de conhecimento e práticas religiosas, especialmente as anteriores à presença dos europeus.

Identidades africanas e ensino da África nas escolas

O livro é organizado em quatro eixos temáticos: o primeiro evidencia os processos de trocas culturais e formação de identidades múltiplas construídas por meio dos oceanos Atlântico e Índico em razão do comércio de longa distância; o segundo reúne escritos sobre o surgimento de diferentes sujeitos, identidades coletivas e práticas econômicas e culturais nas duas margens do Atlântico.

O terceiro eixo expõe várias dimensões da agência dos africanos, considerando hierarquias em contextos coloniais e questões de classe, gênero e etnia; e o último resgata aspectos que caracterizam o ensino e a pesquisa sobre a história da África no nosso país, dialogando com a Lei nº10.639 de 2003, que propõe novas diretrizes curriculares para o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas brasileiras.

África, margens e oceanos dá ênfase à história social e ao protagonismo dos africanos, destacando referências intelectuais e contornos sociais que demarcam a produção sobre história da África no Brasil. É um livro que oferece um panorama da recente produção africanista, colocando em foco a África e suas relações com outros continentes, mediadas pelas águas que a banham.

Fonte: Agência Bori | Origem do release: Editora Unicamp

Agência Bori

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1 Comment Deixe um comentário

  1. Ainda não me dei o gáudio de ler a obra “África, Margens e Oceanos”, coisa que pretendo fazer em breve. Porém desde a publicação da obra fundamental, “Histoire Générale de l’Afrique” (já traduzida em português), volume III “Reinos Africanos” dirigida por Mamadou Tamsir-Niane que as intensas relações comerciais e diplomáticas entre os continentes africano e asiático são bem documentadas e reconhecidas, malgrado pouco CONHECIDAS pelos historiadores tradicionais. Contatos interoceânicos afro-americanos anteriores às explorações europeias há muito são estudadas, conquanto a falta de provas documentais por vezes obstaculizem a metodologia historiográfica. Espero que o livro traga novas informações e provas arqueológicas. Prolfaça aos autores pela obra que, repito, ainda não tive a oportunidade de ler.

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