No continente africano, cada região se dedicava a um único deus. [1] No Brasil, no entanto, as populações negras originárias da África acabaram transformando, por inúmeros motivos, suas crenças. Edison Carneiro explica que a junção dos cultos a vários deuses em um mesmo espaço, base do candomblé, é uma dessas adaptações realizadas no Brasil, mais especificamente, na Bahia de todos os Santos. [2] Foi em Salvador que se deu a organização do primeiro terreiro de candomblé do país, por volta de 1830, no bairro da Barroquinha, transferido depois, em definitivo, para o atual bairro do Engenho Velho, onde resiste até hoje com o nome Ìyá Omi Àxé Airá Intilé. [3]
Alguns marcos do Candomblé no Rio de Janeiro
Além de Salvador, o Rio de Janeiro também guarda uma relação importante com a história do Candomblé no Brasil. O Calundu [4], por exemplo, foi uma das mais importantes referências às religiões de matriz africana a cidade, ainda no Brasil Imperial. Na década de 1870, um ex-escravo “calunduzeiro” chamado Juca Rosa ganhou fama de grande feiticeiro. O nome Calundu, daí derivado, foi o precursor da umbanda e do candomblé.
Em 1904, os candomblés passaram a ser mais conhecidos pela população carioca. Crônicas de João do Rio [5] publicadas no jornal Gazeta de Notícias e posteriormente reunidas no livro As Religiões no Rio, revelaram os endereços de vários terreiros da cidade, o que permitiu até mesmo a elaboração de mapas. Um dos terreiros mais importantes da cidade à época estava localizado na região conhecida como Pedra do Sal, no Centro da cidade, imortalizada pelo famoso sambista Heitor dos Prazeres como “Pequena África”, entre outras coisas, pela diversidade de negros oriundos de diferentes nações africanas.
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É importante dizer a esta altura que o candomblé não se estabeleceu na cidade somente por conta da participação dos seus adeptos. Os leigos também tiveram uma participação importante neste ponto. Desde os tempos coloniais, muitos brancos estavam envolvidos com a religiosidade de origem afro, recorriam aos sacerdotes negros por seus encantos e rituais. As adivinhações, oferendas e iniciações eram e ainda são realizadas mediante pagamento, uma vez que, no candomblé, tudo tem um preço/valor a ser cobrado – o chamado “chão”. [6]
Constantemente, membros da elite carioca eram flagrados entrando e saindo dos endereços dos candomblés, especialmente aqueles localizados no centro. Esse “Rio de Janeiro negro” incomodava a elite social e política, que ansiava seguir o modelo europeu da belle époque, o que significava “branquear” a cidade e fazer obras na cidade, rumo à modernização.
Mãos à obra
Em 1902, Rodrigues Alves tomou posse como Presidente da República. Uma vez no cargo, imbuído desse senso de modernização, iniciou um programa de obras públicas financiado por recursos estrangeiros — 8.500.000 libras — e que priorizou obras de saneamento e reforma urbana. Ele nomeou ainda o médico sanitarista Oswaldo Cruz ao cargo de diretor do Serviço de Saúde Pública, que enfrentou a febre amarela e a peste bubônica. Cruz exterminou ratos, pulgas, comandou a limpeza e a desinfecção de ruas e casas do Rio de Janeiro.
Para prefeito do Rio, Rodrigues Alves escolheu o engenheiro Pereira Passos. Em 1903, Passos iniciou as desapropriações de vários terrenos e casas, além de dar início, no ano seguinte, às ações de demolição. O prefeito idealizou o projeto inspirado nas reformas de Georges-Eugène Haussmann, prefeito do antigo departamento do Sena (1853-1870), na França. Reformista, Haussmann promoveu grandes mudanças no local que hoje corresponde à área metropolitana de Paris, deixando no passado as características medievais da cidade e tornando-a modelo de progresso para as grandes cidades do mundo. Passos esteve na capital francesa de 1857 até o final de 1860, onde adquiriu conhecimentos e dedicou-se aos estudos de arquitetura, hidráulica, construção de portos, canais e estradas de ferro. Foi uma testemunha das mudanças promovidas pelo prefeito francês naquele período.
No Rio de Janeiro, as reformas dividiam opiniões. Parte dos proprietários viam-nas como oportunidade de lucro em decorrência das indenizações pagas aos locatários; já os comerciantes não aprovaram a remoção de seus estabelecimentos e muita gente reclamava da cidade destruída durante as obras. Jornais favoráveis às reformas estampavam em suas páginas as vantagens de uma cidade moderna que facilitasse a atuação da polícia contra os gatunos [7] e celestinas [8], que “manchavam” a imagem do Rio no exterior.
Com a transformação, a região do centro foi valorizada e a “gente pequena”, expulsa pelas reformas, foi habitando o entorno do cais do porto, subindo os morros, construindo favelas e ocupando o espaço que hoje é o bairro da Cidade Nova. Posteriormente, essa população e seus terreiros foram migrando para a Zona Norte, subúrbios e Baixada Fluminense.
Axé gera axé
Nessa época, muitas “casas de santo” foram abertas, ou, simplesmente, transferidas para os subúrbios e Baixada Fluminense. Fundada após 1926, por Dona Pequena de Oxalá e por seu marido João Bankolê (herdeiros do orixá de João Alabá), transferem-se da Gamboa para Bento Ribeiro e em 1932, em definitivo, para Mesquita passando a ser conhecida como Casa Grande de Mesquita. Outro célebre terreiro, transferido da região do Centro do Rio de Janeiro, para a Baixada Fluminense, foi o Ilê Axé Opó Afonjá [9], no bairro de Coelho da rocha em São João de Meriti, uma extensão do terreiro, de mesmo nome, fundado por Mãe Aninha de Xangô em Salvador, no ano de 1910.
Entre as décadas de 1920 e 1930, as principais lideranças do candomblé do Rio começaram a morrer: Rodolfo Bamboxê, João Alabá, Cipriano de Abedé e Aninha de Xangô. Suas mortes tiveram como consequência o fechamento de suas casas, com exceção do Ilê Axé Opó Afonjá (de Mãe Aninha). Estes fechamentos, no entanto, não significaram o fim dos terreiros de candomblé na cidade, mas, marcaram uma espécie de continuidade, pois, a dispersão culminou na abertura de novas casas por toda a região do “Grande Rio”.
Virou notícia
Devido à forte tradição oral, presente nas religiões de matrizes africanas, existe grande dificuldade em obter documentos que atestem, com precisão, as datas de fundação e transferência dos terreiros durante o período das reformas. Porém, segundo os escritos do memorialista Agenor Miranda Rocha (1907-2004) — professor de Matemática e Latim do Colégio Pedro II, iniciado no candomblé e conhecido como Oluo (adivinho), consultado para decidir quem ocuparia o lugar deixado por Mãe Menininha do Gantois — podemos dizer que as transferências foram fruto direto das ações reformistas de Pereira Passos no Rio de Janeiro.
Apesar dos deslocamentos para subúrbios e baixada, os terreiros ainda demorariam para encontrar a paz plena. Segundo relata o jornal O Globo nos dias 9 e 16 de dezembro de 1925, os candomblés “perturbavam” a vizinhança em Nilópolis e Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), o que, não raro, culminava na realização de batidas policiais. Na época, práticas religiosas afro-brasileiras eram perseguidas e reprimidas pela polícia civil. As autoridades contavam com o apoio de dispositivos contidos na legislação, caso do Art. 157 do Código Penal de 1890, que previa punição para a prática de “magia e afins”. Essa situação de discriminação na letra da lei persistiu até o final na década de 1930. Em 8 de abril de 1939, a Lei Federal 1.202 desautorizou a repressão policial das práticas religiosas afro-brasileiras.
Joãozinho da Goméia
Não há como falar das religiões de matrizes afro-brasileira no Rio de Janeiro sem mencionar o nome de João Alves Torres Filho, Joãozinho da Goméia (1914-1971). Tendo deixado a Bahia em 1948, Joãozinho da Goméia chegou ao Rio de Janeiro e na cidade abriu um terreiro em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Foi muito criticado pelas lideranças mais ortodoxas do candomblé por expor aos leigos as danças dos orixás em apresentações teatrais no Cassino da Urca. O luxo que empregava nas vestimentas dos orixás também o tornou alvo constante de críticas. Na atualidade, não obstante, o luxo acabou, gradualmente, sendo incorporado às cerimônias do candomblé.
Joãozinho da Goméia era uma verdadeira celebridade. Seu barracão era frequentado por políticos, diplomatas, esposas de políticos e artistas. Aconselhava, ainda, leitores em um jornal de Duque de Caxias, onde morava. Seu maior mérito, no entanto, além da maneira como o mesmo era visto, foi o de aproximar a sociedade do candomblé.
Bom humor da História
O sonho de Pereira Passos de modernizar a capital federal, no fim, realizou-se. E as populações “indesejadas” que habitavam o centro do Rio, caso dos donos de terreiros de candomblé, passaram a habitar locais cada vez mais longe das vistas das elites. Todavia, o “moderno” visual da cidade durou por mais três décadas, até que a Era Vargas, na década de 1940, implementasse novas mudanças, novamente em nome da modernidade. Já o candomblé, que fora perseguido, invadido e saqueado cumprindo-se os rigores da Lei, como que por ironia, no dia 15 de julho de 2009, tornou-se Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, que um dia o quis esquecido, ou no mínimo, escondido.
Notas
[1] MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura Afrobrasileira. São Paulo: Contexto, 2007. p.224.
[2] CARNEIRO, E. Candomblés da Bahia. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1948. 145p.
[3] Do Iorubá, “Airá, o senhor da casa”.
[4] Palavra de origem Bantu: Espírito que se empossa de alguém.
[5] Pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, foi um jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro.
[6] BAPTISTA, J.R.C. “No candomblé nada é de graça…”: estudo preliminar sobre a ambiguidade nas trocas no contexto religioso do Candomblé. Revista de Estudos da Religião, São Paulo, n.1, p.68-94, 2005. Disponível em:
<www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_baptista.pdf> Acesso em: 2 mar. 2015
[7] Pessoa que faz pequenos furtos.
[8] Alcoviteira; cafetina.
[9] Do Iorubá: Casa cuja força vem de Xangô.
Referências Bibliográficas
A polícia de Nilópolis e os “Candomblés”. O Globo, Rio de Janeiro, 9 de dez. 1925, Matutina, Geral, p.7 Disponível em:<http://acervo.oglobo.globo.com.br> Acesso em: 12 mar. 2015.
A polícia de Nova Iguassú [sic] e os “Candomblés”. O Globo, Rio de Janeiro, 16 de dez. 1925, Matutina, Geral, p.7 Disponível em:<www.oglobo.com.br> Acesso em: 12 mar. 2015.
BAPTISTA, J.R.C. “No candomblé nada é de graça…”: estudo preliminar sobre a ambiguidade nas trocas no contexto religioso do Candomblé. Revista de Estudos da Religião, São Paulo, n.1, p.68-94, 2005. Disponível em:
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BASTIDE, R. As religiões africanas no Brasil: contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. 2ª. ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1985. 200p.
BENCHIMOL, J. L. A renovação urbana na Pereira Passos, um Haussmann tropical. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, 1992. 200p.
CARNEIRO, E. Candomblés da Bahia. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1948. 145p.
CARVALHO, M. M. Candomblés na belle époque carioca. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Fortaleza, 6p, 2009. Disponível em: <
http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.1060.pdf> Acesso em: 6 mar. 2015
GAMA, E.C. Mulato, homossexual, e macumbeiro: que rei é este? Trajetória de João da Goméia (1914-1971). 2012. 200f. Dissertação (Mestrado em História Social) – universidade federal fluminense Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/stricto/td/1563.pdf> Acesso em: 8 mar. 2015
MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura Afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2007. p.224.
MOURA, R. Tia Ciata e a Pequena África no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura/Departamento Geral de Documentação, 1995. 176p.
RIO, J. As Religiões no Rio. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976. 245p.
ROCHA., A. M. Os candomblés Antigos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994. 132p.
SAMPAIO, G.B. A história do feiticeiro Juca Rosa: cultura e relações sociais no Rio de Janeiro imperial. 2000. 200f. Tese (Doutorado em Humanas) – UNICAMP, Campinas, 2000. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000202931>
Como citar este artigo
RIBEIRO, Marcio. Deslocamentos dos candomblés na Reforma Pereira Passos (Artigo). In: Café História. Publicado em 1 mai de 2017. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/os-deslocamentos-dos-candombles-na-reforma-pereira-passos/. ISSN: 2674-59.
Adorei, vê-se a cada dia que as reforma urbanística do início do século está longe de ser um assunto esgotado. Parabéns !
DONA EUGÊNIA ANNA DOS SANTOS, IYÁ ANINHA DO AXÉ OPÔ AFONJÁ, SEGUNDO DEOSCOREDES MAXIMILIANO DOS SANTOS, JORGE AMADO, PIERRE VERGER, LISA EARL CASTILHO E OUTROS AUTORES, FOI FEITA NO SANTO PELAS MÃOS DE DONA MARIA JULIA DE FIGUEIREDO EM 1884. EM 1886, SEGUNDO TODAS AS TRADIÇÕES ORAIS ANOTADAS E PESQUISADAS, ELA TERIA 2 ANOS DE INICIADA E, COM TODA A CERTEZA, NÃO ESTARIA APTA POR NÃO SER NEM MESMO CONSIDERADA EGBOMI) A FUNDAR UMA CASA DE ORIXÁ NO RIO DE JANEIRO.
QUEM O FEZ, SEGUNDO LISA EARL CASTILHO, FOI BANGBOXÊ QUE ATUOU POR MAIS DE UMA VEZ NA FUNDAÇÃO DE CASAS DE CULTO AOS ORIXÁ (RECIFE, SALVADOR E RIO DE JANEIRO), TENDO INCLUSIVE SIDO PRESO PELA POLÍCIA POR ESSE MOTIVO NA PEDRA DO SAL, NO RIO DE JANEIRO.
A CASA QUE BANGBOXÊ FUNDOU NA PEDRA DO SAL ACABOU POR SER COMANDADA POR JOÃO ABEDÉ OU ALAGBEDÉ E MAIS TARDE (DEPOIS DA MORTE DESTE)FOI REORGANIZADA POR DONA EUGÊNIA ANNA DOS SANTOS, PROVAVELMENTE POR VOLTA DA DÉCADA DE 1920.
NÃO HÁ NENHUMA REFERÊNCIA HISTÓRICA DOCUMENTADA OU MESMO DA TRADIÇÃO ORAL QUE COMPROVE A AFIRMAÇÃO DO ARTIGO DE QUE “Um dos mais célebres é o Ilê Axé Opó Afonjá, [9] aberto por mãe Aninha de Xangô (1869-1938), inicialmente, no bairro da Saúde, em 1886.”
EM 1886, DONA EUGÊNIA ANNA DOS SANTOS ERA UMA JOVEM DE 17 ANOS E IYAÔ COM 2 ANOS DE FEITA NA CASA DO ENGENHO VELHO. PODE ATÉ TER VIAJADO AO RIO NESSA ÉPOCA, MAS É MUITO POUCO PROVÁVEL QUE TENHA TIDO AUTORIZAÇÃO DE SUA INICIADORA PARA FUNDAR UMA CASA DE CULTO AOS ORIXÁS, MESMO ACOMPANHADA DE BANGBOXÊ OBITIKO.
Obrigado pela contribuição, Gonçalo! Uma dica para outros comentários: evitar a caixa alta.
As letras em maiúscula dificultam a leitura e podem ser associadas pelos leitores como “falar alto”, “gritar”, etc. Grande abraço!
A casa fundada por Bamboxê não foi comandada por CIPRIANO Abedé, mas por João ALABÁ, e não ficava na Pedra do Sal, mas na Rua Barão de São Félix. João Alabá, no entanto não era sacerdote de orixá, mas de egungun, e colocou uma senhora bastante conhecida na cidade como Mãe Pequena da casa, a Tia Ciata, mas teve que iniciá-la no Candomblé para isso, porque ela era calunduzeira. É verdade que Iyá Aninha se envolveu com a casa de Cipriano Abedé, cuja esposa era filha de santo dela, e realizou o axexê dele em 1932, mas quando ela chegou da Bahia grande parte dos objetos sagrados que seriam despachados haviam desaparecido, “reaparecendo” tempos depois na casa de um filho de santo dele, Santinho de Euá. Santinho de Euá era como então era conhecido o professor Agenor Miranda da Rocha.
Olá, segundo Como o professor Agenor pode ser “Santinho de Ewá” se é de conhecimento geral que ele foi feito de Oxalá?
Inclusive no seguinte artigo afirma-se isto:
file:///C:/Users/computador/Downloads/Jorge%20Garcia%20Basso.pdf
Devemos nos atentar para não fazer criticas levianas.
tô aprendendo muito com você.
Muito obrigado, seu comentário foi de enorme ajuda para que houvesse maior clareza.
O senhor diz que “NÃO HÁ NENHUMA REFERÊNCIA HISTÓRICA DOCUMENTADA OU MESMO DA TRADIÇÃO ORAL QUE COMPROVE A AFIRMAÇÃO DO ARTIGO” de que em 1886 Dona Ana Eugênia (com 17 anos à época) tenha aberto uma “Casa de Santo”. No Rio de Janeiro.
Reginaldo Prandi, Armando Vallado, Edison Carneiro, Roger Bastide, Roberto Conduro e outros dão conta de que em 1910, Dona Ana Eugênia (Mãe Aninha de Xangô) fundou uma casa dissidente do Engenho Velho, fundou o Ilê Axé Opó Afonjá em Salvador, Bahia.
Agenor Miranda Rocha, João Baptista Santos, Marco Aurélio Luz, Monique Augras, Roberto Conduro, Roberto Moura, descrevem algumas idas e vindas (Rio de Janeiro X Salvador), por parte de Mãe Aninha e que, sim, em 1886 ela, Bamboxé e Obá Saniá fundaram uma casa no bairro da Saúde no Rio de Janeiro.
Nos autores mencionados, existem algumas discordâncias quanto ao número de viagens ao Rio de Janeiro e se ela iniciou ou não iniciou “filhos de santo”, nesta ou naquela data. Luis Nicolau Paréz, por exemplo, editando uma correspondência de Dona Ana Eugênia, informa que consta, que na viagem de 1886, eles encontraram uma casa com assentamento de Xangô Afonjá abandonada e que ela apenas limpou e deixou alguém tomando conta.
Existem argumentos e fontes que atestem este ou aquele ponto de vista e isso em todas as áreas.
Ao escrever sobre um tema nos deparamos com as “escolhas” e optamos por seguir um ou outro caminho.
Creio ser importante afirmar que na página da Secretaria da Cultura do Estado do Rio de Janeiro, assim como na página do INEPAC, no artigo referente ao “Tombamento” pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), do Ilê Axé Opó Afonjá situado em São João de Meriti, consta que Mãe aninha foi a fundadora deste axé no ano de 1886 na região do Centro do Rio de Janeiro e que nos anos 1940 foi transferido por Tia Conceição e Mãe Agripina para o endereço atual.
Caro GONÇALO SANTA CRUZ DE SOUZA,Muito obrigado por sua contribuição, foi de grande.
O senhor diz que “NÃO HÁ NENHUMA REFERÊNCIA HISTÓRICA DOCUMENTADA OU MESMO DA TRADIÇÃO ORAL QUE COMPROVE A AFIRMAÇÃO DO ARTIGO” de que em 1886 Dona Ana Eugênia (com 17 anos à época) tenha aberto uma “Casa de Santo”. No Rio de Janeiro.
Reginaldo Prandi, Armando Vallado, Edison Carneiro, Roger Bastide, Roberto Conduro e outros dão conta de que em 1910, Dona Ana Eugênia (Mãe Aninha de Xangô) fundou uma casa dissidente do Engenho Velho, fundou o Ilê Axé Opó Afonjá em Salvador, Bahia.
Agenor Miranda Rocha, João Baptista Santos, Marco Aurélio Luz, Monique Augras, Roberto Conduro, Roberto Moura, descrevem algumas idas e vindas (Rio de Janeiro X Salvador), por parte de Mãe Aninha e que, sim, em 1886 ela, Bamboxé e Obá Saniá fundaram uma casa no bairro da Saúde no Rio de Janeiro.
Nos autores mencionados, existem algumas discordâncias quanto ao número de viagens ao Rio de Janeiro e se ela iniciou ou não iniciou “filhos de santo”, nesta ou naquela data. Luis Nicolau Paréz, por exemplo, editando uma correspondência de Dona Ana Eugênia, informa que consta, que na viagem de 1886, eles encontraram uma casa com assentamento de Xangô Afonjá abandonada e que ela apenas limpou e deixou alguém tomando conta.
Existem argumentos e fontes que atestem este ou aquele ponto de vista e isso em todas as áreas.
Ao escrever sobre um tema nos deparamos com as “escolhas” e optamos por seguir um ou outro caminho.
Creio ser importante afirmar que na página da Secretaria da Cultura do Estado do Rio de Janeiro, assim como na página do INEPAC, no artigo referente ao “Tombamento” pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), do Ilê Axé Opó Afonjá situado em São João de Meriti, consta que Mãe aninha foi a fundadora deste axé no ano de 1886 na região do Centro do Rio de Janeiro e que nos anos 1940 foi transferido por Tia Conceição e Mãe Agripina para o endereço atual.
Creio, que o objetivo deste artigo foi cumprido, tendo em vista que foi possível, mesmo que carecendo de continuidade, claro, não existe aqui a pretensão de encerrar o assunto, foi possível mostrar, de forma resumida, um pouco do processo ocorrido e como o candomblé resistiu e conquistou respeito, mais que merecido.
Interessante abordagem, mas pobre de informações sobre os candomblés em si. Realmente haviam vários na região central do Rio, com descendentes espalhados atualmente na Baixada Fluminense, principalmente. O terreiro de João Alabá, na Barão de São Félix, e onde a Tia Ciata era a Mãe Pequena, se transferiu para onde é o atual município de Mesquita. Há além disso onde informações falsas. Por exemplo, quando Joãozinho da Goméia chegou ao Rio de Janeiro o Cassino da Urca não existia mais. Ele se apresentava no Teatro Recreio, na Praça Tiradentes.
Joãozinho da Gomeia no Cassino da Urca:
http://www.historia.uff.br/stricto/td/1563.pdf
http://extra.globo.com/noticias/rio/escavacoes-revelam-reliquias-de-precursor-do-candomble-17208450.html
O cassino da Urca foi fechado em 1946, Joãozinho chegou no Rio em 1946 e usando, apenas, estas fontes entendo que não há discrepância quanto a esta informação contida no artigo.
retificando, Joãozinho chegou em 1940.
Obrigado Robson Cruz, por enriquecer o tema, contudo, lamento que tenha-o classificado como “pobre” e com informações falsas”.
Não há neste artigo a intenção de que o tema seja um assunto acabado e definitivo, tendo em vista as” tantas” e possíveis abordagens.
Ao escrever nos deparamos com escolhas, recortes a serem feitos, ou seja, limites, portanto, não foi intenção abarcar todo o conteúdo ou todos os candomblés existentes à época(o que seria impossível), todavia, optou-se por descrever, de maneira resumida, o processo pelo qual as Casas de Santo passaram (os deslocamentos) e de maneira (modesta até) mostrar que mesmo com perseguições e tantas outras dificuldades, o candomblé resistiu e tornou-se respeitado.
Em seus escritos,o professor Agenor, a quem você cita como sendo “santinho de Euá”, ele dá conta de que o primeiro terreiro aberto na Baixada Fluminense Foi o Axé de Mesquita (A Casa Grande de Mesquita), fundado após 1926 (apesar disso, no artigo constam duas “batidas” policiais em candomblés na Baixada Fluminense em 1925), por Dona Pequena de Oxalá e por seu marido, João Bankolê, o que optei, por deixar de fora. Como disse antes, “escolhas”, o que de maneira alguma descaracterizou a intenção inicial.
Quanto a Joãozinho da Goméia, é correto afirmar que ele se apresentava no Teatro Recreio, na Praça Tiradentes, contudo, não inviabiliza o fato de ele ter, sim, se apresentado no Cassino da Urna, ao contrário do que você afirmou, ele chegou ao Rio de Janeiro em 1940 e os Cassinos, incluindo o da Urca, foram fechados em 30 de abril de 1946, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra.
Nas referências consta um excelente artigo de Gama (2012) sobre “Joãozinho” :
Mulato, homossexual, e macumbeiro: que rei é este? Trajetória de João da Goméia (1914-1971).
Retornando ao professor Agenor Miranda Rocha , desconheço que ele fosse chamado de “Santinho de Euá”, contudo,em suas memórias, o mesmo revela que o chamavam (ainda menino) de “Seu Santinho”, além da referência constante no final do artigo, segue este link, que já nas páginas iniciais, podem esclarecer quanto esta afirmativa:
Oi, Scheider. Tudo bem? Obrigado pelo comentário. Você achou o artigo “muito racista”? Como? Você pode ser mais específico? Racismo é uma acusação bastante séria.
Ficamos muito surpresos ao ler o seu comentário. O artigo, afinal de contas, denuncia o racismo e a discriminação na Primeira República.
Oi, Schieder. Sim, Certamente foi erro de interpretação.
Não entendi o que você quis dizer com “magia negra”. Mas, enfim, erros de interpretação ocorrem.
Usei o texto em sala de aula e foi maravilhoso ver meus alunos curiosos e se debruçando sobre o tema, eu abordava, justamente, o assunto da Reforma Pereira Passos e com este artigo foi possível abordar, além do costumeiro, preconceito religioso, “exclusão” e resistência.
A partir de agora estarei atenta aos artigos do Café História. Obrigado !
Oi, Mayara! Poxa, que relato legal! Ficamos super contentes em saber que o texto teve uso em sala de aula.
Ler isso é uma recompensa enorme. Pensamos muito nos professores de Ensino Básico!
Saiba que o Café História é a sua casa! É prazer ter a sua presença aqui. 😉
Bom Dia, realmente num artigo que possui limitações, não da realmente para detalhar muitas coisas, mas foi um pontapé para sabermos o porque das casas de Candomblé serem tão distantes do centro Urbano
bom ter te conhecido ontem. A conversa foi inicial, mas prometedora. Quem sabe continuamos o papo. Li seu trabalho sobre ritos funerários… Muito a conversar
Ótimo artigo, como estudante de história tive o prazer de tratar dos processos de reforma em meio a este período com os alunos em meu estágio na EJA, desenvolvi para tratar a temática o “Jogo do Bota Abaixo” que certamente irei atualizar para incorporar estes personagens fantásticos aqui referendados.
Obrigado.
Felicito a todos os que deixaram comentários ao texto, pois, conforme o próprio artigo assinala, nas crenças de matriz afro a transmissão da maior parte dos conhecimentos é oral, e os documentos raros, inclusive porque a perseguição a crenças ligadas aos escravos e camadas menos abastadas da população, amiúde destruíam os poucos que havia. É muito importante o relato de história oral para corroborar ou retificar as informações. É nesta esteira que acrescento que meu tio-avô, vivendo no Rio de Janeiro então, chegou a presenciar uma das batidas policiais para “erradicação de casas de reunião de caterva que acabavam em balbúrdia incomodando a vizinhança” (Jornal do Commercio). As críticas ao mestre Joãozinho da Goméia por apresentar danças sagradas no cassino da Urca foram muitas. No entanto, cabe lembrar o momento de perseguição: antes apresentar como “folclórico” do que permitir que a população continuasse a ver com desconfiança.
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